São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Rebeldes da Tchetchênia fazem 2.000 reféns civis

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Separatistas da Tchetchênia tomaram cerca de 2.000 reféns em um hospital na cidade de Kizliar (Daguestão, república do sudoeste da Rússia) e mataram dois deles, segundo as autoridades russas.
Eles exigem a retirada das tropas russas da república da Tchetchênia, vizinha à cidade.
Segundo autoridades do Ministério do Interior em Kizliar, os rebeldes estavam usando mulheres como escudo humano e atirando com metralhadoras desde o andar mais alto do hospital.
O grupo rebelde, autodenominado Lobo Solitário, já havia reivindicado o massacre de duas famílias que se recusaram a sair de suas casas no ano passado.
"Os lobos chegaram a vocês. Retirem os soldados da Tchetchênia ou civis receberão tiros", disse o líder da guerrilha, Salman Raduiev, por rádio, às tropas russas.
O Ministério do Interior rompeu as negociações com os rebeldes e as retomou por duas vezes. Os separatistas exigiram ônibus para fugir levando pelo menos 30 reféns.
Foi registrado um combate esporádico entre russos e tchetchenos, sem que houvesse tentativa de retomada do hospital. A Rússia enviou 4.000 soldados à cidade.
Segundo funcionários do governo do Daguestão, o comando rebelde teria aumentado sua lista de exigências e pedido a retirada das tropas de toda o Cáucaso.
"Fizemos um promessa de que seremos kamikazes (ataque suicida) até o fim. Não estamos preocupados com nossas vidas", disse Raduiev, do hospital, à TV russa.
O grupo afirma estar com mais de 3.000 reféns, a maioria mulheres e crianças. Na TV, reféns pediam fim pacífico à situação.
O ataque deve trazer problemas ao presidente Boris Ieltsin seis meses antes das eleições presidenciais. Ele repreendeu duramente os ministros da Defesa, Interior e Segurança pelo incidente.
"Os ministérios, o governo e o Conselho de Segurança aprenderam poucas lições de acontecimentos anteriores", disse o presidente, em reunião extraordinária.
Ieltsin se referia à tomada de um hospital em Budennovsk (sul) por rebeldes tchetchenos em junho do ano passado, que deixou mais de 150 mortos. A falta de ação do governo causou um voto de desconfiança do Parlamento e obrigou a mudanças no gabinete.
"Como podemos entender vocês, generais?", disse Ieltsin. "Vocês estão brincando? O que vocês fizeram para parar os rebeldes. Os soldados da fronteira devem ter dormido na hora."
Segundo seu porta-voz, o presidente considerou que o ataque foi uma resposta do líder separatista, Djokhar Dudaiev. Ele estaria dizendo que "não quer uma solução pacífica para o conflito".
Raduiev, o líder do comando rebelde, é conhecido como genro de Dudaiev e é acusado de ter liderado a ofensiva na cidade de Gudermes em meados de dezembro. Segundo o governo russo, ele levou 600 homens ao hospital.
"Budennovsk, Kizliar, e depois haverá outra Kizliar, até a Rússia ser destruída", disse o guerrilheiro. "Enquanto houver um único soldado em nosso território, não haverá negociações nem paz."
A Tchetchênia declarou sua independência em relação à Rússia em 1991, mas ela não foi reconhecida. Em dezembro de 1994, Ieltsin enviou tropas à região para reprimir os separatistas.
Desde então, milhares de pessoas já morreram na guerra civil da região. Em julho, os grupos chegaram a um cessar-fogo, que foi respeitado em grande parte.
Mas, principalmente a partir das últimas eleições na região, de 14 a 17 de dezembro, denunciadas como fraudulentas, os conflitos na região foram retomados.

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