São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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Paulo, o pior

FRANCISCO WHITAKER

Ao vermos São Paulo entregue à sanha de obras do atual prefeito, em estreita associação com a especulação imobiliária, cabe perguntar se será possível um dia viver melhor nesta cidade.
Impressiona-nos mais ainda que há 40 anos atrás L. J. Lebret, no primeiro grande estudo feito sobre nossa aglomeração urbana, apontou caminhos que, se seguidos, teriam evitado muitos problemas atuais.
Por que tamanha irresponsabilidade na atuação da maioria de nossos prefeitos? A explicação talvez esteja na reflexão do próprio Lebret. Ele definia a política como "ciência, arte e virtude do bem comum". O atual prefeito, sempre obnubilado pela pretensão de ser presidente da República, fornece um acabado exemplo de negação da definição de Lebret.
Ele talvez nem consiga, mesmo com sua usual desfaçatez, explicar a expressão "bem comum". Já quanto à democracia, seu autoritarismo é conhecido. E há o exemplo de sua relação com a Câmara: para impedi-la de ser um contra-poder democrático ao Executivo, fiscalizando-o e legislando no respeito aos interesses dos cidadãos, submete os vereadores a sua vontade "comprando-os" com vantagens e favores.
Quem encontraria rigor e racionalidade, voltados para o interesse público, nas decisões do prefeito? Alguém ousaria, por exemplo, dizer que seus túneis e viadutos são as melhores escolhas para o uso intensivo do dinheiro público?
Ao mesmo tempo que não se preocupa com o longo nem com o médio prazo do endividamento que deixará a seus sucessores, faz seguidas intervenções irrelevantes na vida dos paulistanos.
Preocupa-se com o imediato, como contratar o máximo possível de futuras obras, para que já fique assegurada a contrapartida das empreiteiras para os fundos de campanha.
A análise dos costumes que trouxe de volta à prefeitura será um capítulo tenebroso de seu mandato. Quando a mentira é método assumido de comportamento político, ética vira sinônimo de ingenuidade. Fala-se até em "tabelas" de extorsão nas regionais -lançando suspeitas inclusive sobre vereadores.
Da definição de Lebret, o atual prefeito talvez ficasse somente com a arte, reduzindo tudo ao jogo de cintura e à esperteza. Nisso é mestre. E há mesmo quem elogie sua "habilidade" em promover-se e sair de situações embaraçosas. Esquecendo-se que todo político deveria ser exemplo construtivo para a sociedade.
Seu modo de atuação lhe garantirá certamente, por parte dos estudiosos que no futuro analisarem o caos paulistano, o título de "Paulo, o pior".

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