São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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'O Mercador de Veneza' discute racismo

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Peça: O Mercador de Veneza
Autor: William Shakespeare
Direção: Amir Haddad
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, centro, Rio, tel. 021/216-0237)
Quando: estréia hoje, às 21h; quintas e domingos, às 19h, sextas, às 21h, sábados, às 18h e 21h
Quanto: R$ 10

Cristãos, muçulmanos e judeus falam de amor, racismo e intolerância em "O Mercador de Veneza", peça de William Shakespeare (1564-1616) que estréia hoje no Rio, numa montagem dirigida por Amir Haddad.
"O Mercador de Veneza" foi escrito há quatro séculos e é a segunda peça mais montada de Shakespeare: só perde para "Hamlet". Faz um retrato da ascensão da burguesia mercantil e do conflito racial e rendeu a Shakespeare a acusação de anti-semitismo.
A história começa quando o nobre falido Bassânio (Tuca Andrada), entra na fila de pretendentes à mão de Porcia (Maria Padilha). Sem dinheiro, ele pede empréstimo ao judeu Shylock (Pedro Paulo Rangel), com o mercador Antônio (Henri Pagnoncelli) como fiador.
O final trágico do judeu Shylock fez com que o autor fosse acusado de racista. Haddad, que aos 36 anos da carreira dirige seu primeiro Shakespeare, discorda.
"Foi uma manobra nazista que usou Shakespeare para justificar o genocídio. Na verdade, Shakespeare colocou ali problemas eternos e usou o judeu para expressar o que não era possível dizer abertamente", diz Haddad.
Em sua montagem, ele segue o modelo do Shylock criado por Laurence Olivier no início dos anos 70, que retira do judeu as características do vilão tradicional e o dignifica como vítima de uma sociedade que o rejeita.
Pedro Paulo Rangel e Maria Padilha, além de atuar no espetáculo, são também produtores. "Gostei da experiência de produzir. Às vezes acho que vou enlouquecer e me arrependo, mas sinto prazer absoluto com este trabalho", diz Maria Padilha, 35.
"O que me encanta em Shakespeare é que, de um ponto de partida simples, como um pedido de casamento, ele discute questões universais, como o amor e o preconceito", afirma.
"O Mercador de Veneza" custou R$ 180 mil e fica em cartaz dois meses no Centro Cultural Banco do Brasil. Também estão planejadas temporadas em Curitiba, Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e capitais nordestinas.

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