São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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'Toy Story' é filme para qualquer idade

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Filme: Toy Story - Um Mundo de Aventura
Produção: Estados Unidos, 95
Direção: John Lasseter
Onde: Cine Belas Artes (salas Mário de Andrade e Portinari), Ipiranga 1 e circuito

Já se falou muito do filme "Toy Story", todo computadorizado (550 bilhões de bytes), que custou 30 milhões de dólares à sua produtora, Walt Disney, e rendeu 105 milhões no primeiro mês, levando-o para a lista das dez maiores bilheterias do cinema americano.
O filme evidenciou mais um bilionário californiano da informática, Steve Jobs, ex-Apple, atual Pixar, empresa que forneceu o programa que animou o filme.
Tais números são temas das páginas de economia e informática dos principais jornais. Esqueceram-se de um detalhe: a engenhosidade do roteiro é comparável aos grandes clássicos da Disney.
É um filme que segue a máxima spilberguiana, "todo adulto já foi uma criança e é saudosista", levando ao cinema pais e filhos, tios e sobrinhos, ou filhos sem os pais, ou tios com namoradas. Faz rir, chorar, nos leva a torcer.
Reconhecemos, na tela, os brinquedos que já tivemos, e nos sentimos culpados por reciclá-los a cada aniversário, ou por deixá-los à mão, ou melhor, à pata do inimigo número um: os cães.
Tais brinquedos ganham vida longe da presença dos humanos, jogam cartas, fofocam, olham a vista da janela e se chocam com o hobby do moleque pestinha vizinho: decapitar as bonecas da irmã.
A história começa na festa de aniversário de Andy. O brinquedo preferido, o cowboy Woody, convoca os outros para uma reunião de urgência. Uma operação é montada para recepcionar os novos brinquedos. Tensão no ar: os velhos serão trocados pelos novos?
Andy ganha Buzz, um superastronauta. Em disputa a preferência do dono, e a consequente liderança sobre os demais brinquedos. Woody é um cowboy à moda antiga, que se tiver um barbante puxado, solta a frase "esta cidade é pequena demais para nós dois".
Buzz, diferente, movido à pilha, diz várias frases, tem raio laser, boneco "transformer" de asas e luzes. A tradição folclórica do velho americano desbravador do Oeste é substituída pelo simulacro do homem tecnológico, com ambições maiores, o universo.
Woody tem seu prestígio ameaçado, mas Buzz, longe das intrigas de fundo de armário, tem mais com que se preocupar: sem saber que é um brinquedo, se vê na missão de salvar a Terra de uma eventual guerra estrelar.
Um dos conflitos que engrenam o filme é a busca de Buzz por sua verdadeira identidade. E decepção quando descobre que não passa de um brinquedo "made in Taiwan".
Os brinquedos sofrem gato e sapato, são jogados para o alto, pisados, trancados no armário, mas, na maior humildade, estão sempre dispostos a entreter seu dono, cientes de que seus dias estão contados, que criança cresce, preferências mudam, e o futuro está reservado a um skate, uma bola de basquete, uma bicicleta ou, pior, um cachorro de verdade!
Não pense que o sucesso do filme está relacionado apenas à quantidade de bytes. Há também um roteiro da mais alta qualidade, com mitos que há séculos comovem. Sem contar a emoção de reconhecer, na tela, com vida, os brinquedos que testemunharam nossa formação. E não se envergonhe se nenhuma criança da família puder ir. Vá com os amigos.

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