São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Obras de Joan Miró surpreendem nos detalhes

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As 179 obras da exposição "Miró: Caminhos da Expressão" permitem ao público conhecer o trabalho do pintor catalão, principalmente a partir da década de 60.
É a fase em que Joan Miró (1893-1983) já abandonou o uso das cores primárias do início da carreira e faz mais trabalhos com grafite. Os trabalhos, também, trazem forte influência oriental.
Para comentar a exposição, que foi sucesso de público no Rio (cem mil visitantes), a Folha convidou Aguinaldo José Gonçalves, 46, professor de teoria semiótica da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo).
Gonçalves, cuja tese de mestrado relaciona os trabalhos de Miró com o do poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto, escolheu, para a Folha, dez trabalhos que considera os mais significativos da exposição.
"A mostra é bastante representativa do trabalho de Miró. Faltaram apenas trabalhos anteriores e mais conhecidos, como a fase das constelações e as recriações do pintor das décadas de 20 e 30", diz Gonçalves.
O professor explica que o complexo da obra de Miró está em um trabalho aparentemente simples. "Preste muita atenção nos detalhes, obras que parecem ser semelhantes trazem revelações surpreendentes."
Como exemplo, ele cita dois quadros da exposição que, à primeira vista, parecem duas versões, na qual só muda o fundo: preto ou branco. "Observe que detalhes como a expressão do olho ou do nariz mudam o sentido da obra", aconselha.
O crítico elogiou a seleção, feita pela curadora Irma Arestizábal, diretora do Museu da Casa Rosada, em Buenos Aires (Argentina). "A seleção não está redundante."
Os 147 desenhos são praticamente inéditos. Só foram expostos uma vez, entre dezembro de 1994 e fevereiro de 1995, na Fundação Pilar e Joan Miró, em Palma de Mallorca, na Espanha.
Para Gonçalves, a exposição peca por não trazer maiores explicações sobre as obras e suas prováveis datas de realização.
A mostra, avaliada em US$ 21 milhões, traz 147 desenhos, 17 pinturas, seis esculturas e nove gravuras.
Os desenhos são datados de 1945 a 1981 e as pinturas, de 1966 a 1978.
Está exposto também um livro no qual o escritor João Cabral de Melo Neto analisa a obra de Miró. O livro é ilustrado por três das primeiras xilogravuras do artista.
O empresário José Mindlin, que cedeu o livro para a exposição, destaca o fato de o museu ter conseguido reunir gravuras, esculturas e quadros do autor.
Nas obras desta exposição, Mindlin destaca a faceta do pintor de conseguir "transmitir alegria mesmo em obras que só usam preto e branco".
Emanuel Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado, que já promoveu exposição sobre o Miró, diz que falta, na exposição do MAM, a parte mais colorida da produção do pintor.
"A exposição concentra-se na última fase do pintor, talvez a mais sombria", afirma.
Para a exposição de Miró, os organizadores esperam um público de 150 mil pessoas. Nos três primeiros dias, incluindo a vernissage, 3.000 pessoas foram ao MAM.

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sobre Miró à pág. 5-4

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