São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Agradecer duas vezes

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Paiva é uma pequena cidade e paróquia que pertence à Arquidiocese de Mariana. Fica um pouco à margem da estrada que liga Barbacena a Rio Pomba. Povo simples, unido e trabalhador, enfrenta a vicissitude da zona rural, sob a constante atração das cidades maiores.
As comunidades católicas vêm crescendo na participação sacramental, na formação catequética e no serviço ao próximo graças ao empenho de vários sacerdotes e de agentes de pastoral.
Eis aí a primeira razão deste agradecimento a Deus. A alegria de constatar o progresso espiritual dessa paróquia, bem como das outras que lhe são vizinhas: Oliveira Fortes, Santa Bárbara, Mercês e Dores do Turvo. Nessas comunidades foram se organizando vários grupos de reflexão que se reúnem, com frequência, para ler a palavra de Deus e aplicá-la na própria vida.
Esse trabalho pastoral se intensificou em Paiva, preparando a festa litúrgica do padroeiro São Sebastião, no próximo dia 20 de janeiro. À frente da programação está o jovem padre Luis Miguel, ordenado sacerdote a 29 de abril do ano passado. Podemos, assim, imaginar a animação e o zelo da comunidade paroquial em promover a novena de seu padroeiro.
Quem frequenta essa cidade de arraigada tradição religiosa sabe com que empenho o povo celebra essas festas que, além dos momentos litúrgicos, incluem, também, expressões folclóricas, com cantos e distrações na praça.
Nesse ambiente de amizade e união eram numerosos os fiéis que participavam da eucaristia na tarde da última quarta-feira, dia 10. Após os cânticos finais, padre Luis Miguel ficou atendendo aqueles que desejavam receber o sacramento da penitência. Terminadas as confissões, rezou, fechou a porta da sacristia e dirigiu-se para a casa paroquial.
Minutos depois, um ruído assustador. Desabou o telhado da igreja, provocando a queda das paredes. Graças a Deus, ninguém mais estava dentro do recinto. Esse é o motivo do nosso segundo agradecimento.
Que teria acontecido se o pesado teto tivesse caído momentos antes? Nestas linhas venho, pois, unir minha prece ao povo de Paiva para expressar a Deus o profundo reconhecimento por ter preservado a vida de padre Luis e de tantas pessoas desse povo querido.
Amanhã estaremos reunidos com a comunidade, na praça diante da igreja destruída, para celebrar a novena do padroeiro, cuja imagem ficou intacta entre os escombros, cantar o louvor a Deus e pensar logo na reconstrução do templo.
Um acontecimento tão insólito nos convida a cuidar dos telhados das igrejas, especialmente neste tempo de chuvas excessivas. Será preciso uma revisão esmerada para evitar outros acidentes.
Compreendemos, assim, a campanha que tem sido feita pelo Iphan, solicitando a colaboração de empresas para a restauração de igrejas e monumentos.
No entanto, um fato como esse acontecido em Paiva ensina-nos, à luz da fé, a reconhecer a ação providente de Deus que nos preserva de tantos perigos no dia-a-dia de nossas vidas.
Mas é o mesmo amor de Deus que nos ajuda, também nas horas difíceis das inundações e desabamentos, a renovar a certeza de que o sofrimento e as provas têm um misterioso valor para a nossa salvação.
A alegria na preservação e o abandono nas horas difíceis são expressões da mesma confiança na providência divina, que a todo momento procura nosso maior bem.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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