São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Química fascina, mas enfrenta demissões

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O químico tem uma tarefa das mais complicadas neste final de século: transformar a atual escassez de empregos na indústria em oportunidades concretas.
"A indústria química é a de maior valor agregado do país, fabrica mais de 300 produtos diferentes, mas o grande problema é que o mercado está saturado", diz José Atílio Vanin, 51, professor do Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo).
Embora o Estado de São Paulo conte com 13.500 indústrias químicas, apenas 10% são de grande e médio porte.
A diferença fica com pequenas empresas, incluindo as de "fundo de quintal", muitas das quais não empregam nem sequer um profissional com formação em química.
Mas, embora o sonho de quase todo químico seja atuar em uma grande indústria -Rhodia, Bayer, Basf, entre outras-, a prestação de serviços ainda é o maior nicho a ser explorado.
"Não-químicos têm montado fábricas de cabeças de boneca de plástico para lojas de brinquedo. Isso representaria uma geração de empregos", afirma Vanin.
Ao mesmo tempo, as pequenas esbarram em uma série de problemas -além de vários impostos, as precauções necessárias para não agredir o meio ambiente.
Outra boa oportunidade é montar um pequeno laboratório especializado em fazer análises. O investimento, segundo profissionais do setor, é equivalente ao de montagem de uma lanchonete.
Dados do CRQ (Conselho Regional de Química) apontam para uma média de 4,5 químicos por indústria -haveria, então, 60.750 químicos no mercado, 20% provenientes de cursos técnicos e 80% de superiores.
Previsões das mais otimistas apostam que, na segunda metade da década, só 10% dos formados conseguirão emprego na grande indústria -o Estado recebe, por ano, 11 mil novos estudantes de química, metade em cursos técnicos e metade em superiores.
O magistério ainda é impraticável. Mesmo assim, coordenadores de grandes colégios têm salários razoáveis -chegam a receber R$ 5.000 por mês-, mas são meia dúzia de privilegiados.
É pouco para a importância da química nos dias de hoje. A existência do chip (o "cérebro do computador"), por exemplo, só é possível graças a um elemento químico, o silício. O chip é uma plaqueta de silício.
Muitos dos jovens que conversam via Internet são fascinados pela química. "Tudo no mundo é química. Olho para um pára-choque de carro e começo a imaginar de que material ele é feito", conta Andréa Rodrigues Melo, 24, analista de laboratório da Bayer.
"Deveria haver uma conscientização das empresas de que os quadros enxutos podem provocar caos no mercado", alerta Sergio Leite, 28, secretário-geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo.
"Não podemos ir contra os avanços tecnológicos, mas essas grandes empresas poderiam ter bons programas de aplicação da mão-de-obra ociosa."

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