São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 1996
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Médicos querem ir à Justiça contra Alencar

DA SUCURSAL DO RIO

Enquanto o governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), acusava cinco médicos do hospital Albert Schweitzer de "irresponsáveis", a direção do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio) anunciava intenção de responsabilizar o governador na Justiça pelo caos no setor de saúde.
A gota d'água para a explosão da crise foram três mortes, no último fim-de-semana, de pacientes que procuraram o hospital estadual, em Realengo (zona oeste), para atendimento emergencial.
Os três teriam morrido por falta de atendimento, pois o plantão de emergência do hospital estaria desfalcado de cinco médicos, que faltaram ao trabalho.
Segundo o presidente do Cremerj, Mauro Brandão, os médicos não podem ser responsabilizados, pois já haviam comunicado à direção do hospital que tinham abandonado o emprego, devido aos baixos salários e às precárias condições de trabalho.
Para Alencar, o hospital não teve culpa nas mortes, mas mesmo assim os médicos foram irresponsáveis em faltar ao plantão. Segundo ele, os médicos não haviam pedido demissão, como anunciado.
O governador confirmou a contratação de 131 médicos, em sistema de cooperativas, para suprir, já a partir deste fim-de-semana, os buracos nas emergências do Albert Schweitzer e de outros hospitais públicos.
Os médicos se agruparão em cooperativas, dividindo os ganhos entre si. A direção do Cremerj afirmou não ter posição formada sobre o sistema de cooperativas.
Segunda-feira, Brandão se reunirá com o procurador-geral de Justiça, Hamilton Carvalhido, para estudarem medidas judiciais contra o governador. "Ele é o maior responsável pelo caos, a crise na Saúde", disse Brandão.
Carvalhido não se pronunciou sobre o assunto. Brandão disse que ele pensa em entrar na Justiça com pedido de ação civil pública contra Alencar, que ficaria sujeito a ter que suprir hospitais públicos com um atendimento emergencial definido pelo Cremerj.
Brandão disse que, devido às péssimas condições de trabalho e aos baixos salários, cerca de sete médicos abandonam o serviço público por mês. A grande maioria prefere caracterizar o abandono do emprego, faltando mais de 30 dias, porque o processo normal de exoneração leva cerca de um ano.

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