São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 1996
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Israel entra em alerta máximo

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Sob uma chuva forte e temperatura perto de zero, Israel enterrou ontem, no cemitério militar do monte Herzl, mais duas vítimas fatais, desde os acordos de paz de 1993, do eterno conflito com os palestinos.
Eram oficiais do Tzahal, o Exército de Israel, mortos em uma emboscada na noite de anteontem na estrada que vai de Jerusalém a Hebron (35 km ao sul).
Havia mais do que simbolismo no ar, durante o ato fúnebre. Havia a convicção das autoridades de que o ataque foi o começo de "uma nova onda de terrorismo, que continuará após a eleição".
Por isso mesmo, as forças de segurança entraram em estado de alerta máximo, que durará pelo menos até sábado, quando pouco mais de 1 milhão de palestinos irão às urnas para a primeira eleição de sua milenar história.
O temor quanto a uma nova onda de violência é de parte a parte. O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, telefonou ontem para Shimon Peres, o premiê israelense, pedindo-lhe que controle os extremistas judeus que ameaçam fazer manifestações no sábado.
Peres, como é óbvio, deu-lhe garantias, mas está pedindo o mesmo empenho de Arafat. Ele acusa as "gangues" do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico) e da Jihad (Guerra Santa) Islâmica pela morte dos soldados.
Enquanto os líderes tentam pôr água na fervura, há quem prefira jogar gasolina no latente fogo de um ressentimento acumulado.
Nabil Chaath e Ghassan Khatib, ambos ministros da ANP e candidatos, publicaram anúncio no jornal palestino "An-Nahar" em que suas nomes aparecem sob um desenho de dois fuzis Kalachnikov cruzados e uma granada, tudo impresso sobre mapa ampliado da Palestina -sem Israel.
"Os árabes jogam assim. Uma mão faz a paz e recebe Jerusalém numa bandeja de prata. A outra esconde as armas e mata pessoas".
O Likud, o bloco conservador de oposição, atacou na mesma direção: em nota oficial, disse que o atentado foi a resposta à aprovação, no mesmo dia, pelo Parlamento israelense, do esquema que permite a cerca de 5.000 palestinos votarem em Jerusalém Oriental.
Os palestinos reivindicam a cidade ou, ao menos, a sua parte leste, habitada pelos árabes, como sua capital.
Moshe Yaalon, major-brigadeiro da inteligência israelense, em depoimento ao Parlamento, na terça, disse temer que a ANP esteja preservando a infra-estrutura do terrorismo para usar como carta nas discussões sobre o status final de Jerusalém e das colônias judaicas em Gaza e na Cisjordânia.
Verdade ou não, o fato é que, em setembro, a ANP reuniu-se com extremistas no Cairo e fechou um acordo para que não houvesse atentados no período eleitoral.

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