São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 1996
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Com deslizes, mas no rumo

O presidente reafirmou seus compromissos com a reforma do Estado e a busca de maior justiça social. Foi esse o cerne das declarações de ontem e, também, o motivo de um balanço positivo. Ainda que evitasse aspectos negativos da realidade, o presidente ressaltou avanços verdadeiros.
Talvez a maior razão da popularidade do Plano Real e do governo, a estabilidade da moeda impediu, efetivamente, que os salários continuassem a se deteriorar ao longo de cada mês. E os setores de mais baixa renda, sem acesso às aplicações financeiras, foram os principais beneficiados.
Foi lamentável, entretanto, a tentativa de negar o aumento de desemprego. Insistindo no discurso de que se trata apenas de episódios isolados, procurou-se minimizar, sem base na realidade, um problema grave e desafiador.
Evitando as informações setoriais, que mostram forte redução de vagas na indústria e desemprego recorde na construção civil no Estado de São Paulo, o presidente afirmou que é o IBGE que dispõe dos dados relevantes sobre o assunto. Pois são eles: desemprego de 4,0% em novembro e 3,4% em dezembro de 94, antes da posse. Desemprego de 5,1% em outubro último e de 4,7% em novembro de 95.
O combate à indexação da economia, defendido pelo presidente, é de fato um dos instrumentos de maior importância no controle da inflação -e o avanço nessa área, um mérito do governo. Mas daí a concluir que os funcionários públicos não têm nada a ser reposto há uma grande distância. Fixar a remuneração básica por dois anos, enquanto o custo de vida sobe ao menos 40% no período, não deixa de ser uma violência.
De outro lado, o presidente mostrou fortes argumentos contra as críticas de que a área social foi relegada. O crescimento dos gastos em saúde é inegável. E a comparação, citada na entrevista coletiva, entre gastos de aproximadamente US$ 100 bilhões na França e de R$ 15 bilhões aqui certamente ajuda a justificar por que, mesmo com o avanço, os serviços ainda são tão ruins.
Nesse ponto, além de defender o desempenho do ano passado, o presidente da República ainda reforçou a proposta do novo imposto sobre movimentação financeira para o ministério de Jatene.
As privatizações prosseguiram, os monopólios estatais foram extintos, e o governo chegou a um acordo na reforma da Previdência.
Assim, de modo geral, apesar de lentidão em certas áreas e insuficiências noutras, é inegável que o pronunciamento presidencial contribuiu para reforçar a impressão de que o país segue no rumo certo.

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