São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jerusalém se prepara para "batalha"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Terminou ontem a campanha eleitoral para o pleito palestino de amanhã ou para o que está sendo chamado de "a batalha de Jerusalém".
É uma referência à tensão que cerca a votação dos apenas 5.000 eleitores autorizados por Israel a depositar seu voto nesta histórica cidade de 3.000 anos, que ontem se vestiu de branco pela primeira nevasca do ano.
O status de Jerusalém foi deixado em aberto pelos acordos de Oslo, que permitiram uma limitada autonomia para os palestinos na faixa de Gaza e na Cisjordânia, os outros dois pontos de votação.
Israel quer mantê-la como sua capital, enquanto os palestinos querem dividir a cidade em duas, ficando a parte oriental, habitada predominantemente por árabes, como a capital de um futuro Estado palestino.
Por isso mesmo, qualquer sinal de que Israel poderá concordar com as pretensões palestinas enfrenta enorme resistência entre os judeus, especialmente os mais ortodoxos ou radicais.
Israel fez tudo para descaracterizar a votação em Jerusalém Oriental. Usou até truques, como o de determinar que os palestinos depositem seus votos não em urnas, mas em caixas de correio, para que sejam contados depois nas áreas já sob controle palestino.
Equivaleria, assim, a votar no "exterior" e não em uma área que os palestinos reivindicam.
Assim mesmo, apenas 5.000 palestinos depositarão seus votos em cinco postos do correio de Jerusalém. Os outros 44 mil eleitores o farão nos subúrbios. Israel proibiu também comícios e a exibição de cartazes ou da bandeira palestina.
São "condições humilhantes ditadas por Israel, o que está abaixo da dignidade do último efêndi de Jerusalém", escreveu Meron Benvenisti, no intelectualizado jornal "Haaretz". Efêndi é uma palavra turca que designa chefe de clã.
Apesar das "condições humilhantes", os ortodoxos judeus não se conformam e ameaçam promover manifestações amanhã junto aos postos de votação.
É verdade que, ontem, Uri Ariel, chefe do Conselho das Colônias da Judéia e Samaria (nomes bíblicos), informou ao chefe de polícia de Jerusalém, Arye Amit, que as manifestações serão legais e coordenadas com a polícia.
Mas, do lado palestino, ninguém acredita. Afinal, mesmo depois do início do processo de paz, o governo israelense continuou a dar autorizações para expandir a presença de judeus na cidade, inclusive na área árabe.
Só no primeiro quadrimestre do ano passado, foram dadas 1.126 licenças de construção para judeus, contra 324 em todo o ano de 1994.
No fundo, é apenas a continuidade de um processo de expulsão da população árabe da cidade. Desde que tomou a parte oriental, na esteira da guerra de 1967, um terço da área árabe foi confiscada.
Consequência: hoje, vivem nas terras que até 1967 pertenciam à Jordânia 160 mil israelenses, 30 mil mais do que os palestinos.
Para os palestinos, a eleição é um primeiro passo para tentar reverter essa situação no futuro.
A expectativa ficou parecendo mais próxima ontem, quando Israel entregou à Autoridade Nacional Palestina o vilarejo de Abu Dis, nos subúrbios de Jerusalém.
O novo prefeito, Jamil Nasser, afirmou: "Em nome do povo palestino e do presidente Abu Ammar (Iasser Arafat), esta área é declarada liberada para sempre".
Talvez seja a primeira salva de tiros, embora verbal, na "batalha de Jerusalém".

Texto Anterior: Lisa Marie Presley anuncia que vai se divorciar de Michael Jackson
Próximo Texto: Peres poderia antecipar pleito
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.