São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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Medeiros, o vencedor

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - O acordo da Previdência produziu vencedores e perdedores. O maior vencedor, de longe, chama-se Luiz Antônio de Medeiros, presidente da Força Sindical.
Para melhor entendimento, comecemos pelos perdedores. Os principais são os trabalhadores assalariados. Continuam sem um sistema previdenciário definitivo. Daqui a cinco anos, no máximo, será necessário outro ajuste.
Outros que levaram uma sova foram os parlamentares. Discutiram durante quase um ano a Previdência. No final, vêm os sindicalistas e roubam a festa.
O ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, fica no meio do caminho. Consegue um ajuste, mas não inteiramente aquilo que esperava.
Fernando Henrique Cardoso, dizem, foi um vitorioso. Por quê? Porque está fazendo um ajuste. Pode ser. Mas, afinal, não é a reforma definitiva que ele prometeu em sua campanha eleitoral.
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, quase conseguiu ser o maior vencedor da história. Mas, para seu azar, enfrentou adversários dentro de seu próprio quintal, a CUT e o PT.
Vicentinho, publicamente, sai com a imagem do recuo. Um dos mais íntegros sindicalistas do país teve de ceder ao centralismo democrático. Na hora "h" o presidente da CUT não pôde assinar o acordo que havia negociado. Sucumbiu aos petardos lançados por deputados do PT e por membros da central.
Agora, Medeiros. Um sindicalista forjado dentro do antigo Partido Comunista, sempre teve muito apego ao poder. Aliou-se até a Paulo Maluf. Em 94, embarcou numa canoa furada: quis ser governador de São Paulo. Fracassou.
Quando retornou ao sindicalismo, quase perdeu sua cadeira de presidente da Força Sindical para um colega. Penou com denúncias sobre suas relações nada enobrecedoras com Fernando Collor. Medeiros estava no limbo. Em um ano, quase acabou na lata do lixo.
Nesta semana, tudo mudou. Medeiros veio a Brasília como grande articulador -que, de fato, é. No Planalto, ficou próximo de FHC. Posou como o mais coerente dos artífices do acordo.
Curiosamente, o tão falado acordo da Previdência nem sequer existe no papel. É o acordo que foi sem nunca ter sido. Mas serviu para reabilitar como força política, para o bem ou para o mal, Luiz Antônio de Medeiros.

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