São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 1996
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Covas anuncia obras que não realizou

XICO SÁ; GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Covas fez "maquiagem" em uma série de dados para fazer propaganda da sua gestão. As informações mostram 1995 como um ano "cor-de-rosa" para a população do Estado.
Os dados foram apresentados em um encarte, de 1,3 milhão de exemplares, que circulou ontem em jornais paulistas. O governo gastou R$ 687 mil com o projeto.
Editado como se fosse um exemplar do "Diário Oficial", o suplemento exalta a construção de 15.284 casas populares entregues aos paulistas.
As casas, no entanto, foram praticamente levantadas no governo Fleury (1991-1994), segundo apurou a Folha junto a empreiteiros responsáveis pelas construções e entidades que representam empresas de construção civil.
O governo Covas realizou apenas pequenas obras de acabamento em alguns conjuntos habitacionais e fez o sorteio das casas.
Por esse motivo, a publicidade oficial de Covas louva o fato de o sorteio agora ser feito de forma "transparente", como grandes bingos, em estádios de futebol.
Com os recursos repassados da arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o governo do Estado poderia construir pelo menos 6.000 casas por mês.
Uma lei estadual obriga que 1% da arrecadação seja transferido automaticamente para habitação.
"O governo está com a sua política habitacional muito atrasada", disse Paulo Roberto Godoy, presidente da Apeop (Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas).
Ao ler o encarte da administração Covas, o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho também protestou. Ressurgiu como "pai" das realizações anunciadas pelo tucano na sua publicidade.
"As casas foram feitas na minha gestão", informou Fleury, por intermédio da sua assessoria.
Também no mercado da construção civil, Covas anuncia como sua realização o projeto de parceria com a iniciativa privada para exploração do sistema rodoviário Anhanguera/Bandeirantes.
O projeto existe desde a gestão Fleury, quando sofreu várias interrupções burocráticas. No momento, ainda está na fase de licitação.
O governo também anuncia como "oportunidade de negócios", projetos que ainda não possuem sequer um esboço no papel.
É o caso da parceria com empresas para a conclusão de obras inacabadas de hospitais públicos. Não existe nenhuma política definida nem a forma que serão feitas essas possíveis parcerias com a iniciativa privada.
Na área social, a propaganda de Covas exalta a redução dos custos operacionais dos programas em até 327%. Isso significou, segundo dados que não são revelados pelo encarte oficial, a desativação de projetos de assistência social a cerca de 100 mil crianças carentes.
Polícia
A propaganda do governo ressalta também a melhoria da qualidade da polícia, que estaria "direcionada para servir ao cidadão".
Dados do próprio governo, divulgados ontem nos jornais, apresentam uma outra realidade sobre segurança pública: o número de homicídios dolosos (quando existe a intenção de matar) cresceu 9,9% em São Paulo em 95.

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