São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Governo arrecadava R$ 1,5 bi por mês

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor da Macrométrica, Estêvão Kopschitz, a pedido da Folha , calculou o imposto inflacionário verificado de 1991, logo após o Plano Collor 2, até o primeiro semestre de 1994, véspera do Plano Real.
Trata-se de um período sem choques, com inflação permanentemente em alta. Na média, pelas contas de Kopschitz, o governo arrecadava mensalmente R$ 1,5 bilhão (em valores de hoje) por conta do imposto inflacionário - ou seja, pela desvalorização do dinheiro dos outros.
O dinheiro é emitido pelo governo e entregue às pessoas. É como se fosse um débito do governo para com os cidadãos. Ou, inversamente, um crédito dos cidadãos contra o governo. Com a desvalorização, o credor perde, o devedor ganha.
Só que os bancos também ganhavam R$ 1,2 bilhão ao mês, aplicando o dinheiro que os clientes deixavam parado em suas contas. Assim, descontando o que entregavam para o governo, os bancos tinham um ganho líquido de R$ 600 milhões.
Na verdade, governo e banco mantinham uma relação promíscua. O BC tomava dinheiro dos bancos. Mas estes também ganhavam algum do governo. Por exemplo, aplicando por um dia o dinheiro recebido por conta de pagamento de impostos.
Na conta final, entretanto, governo e bancos eram ganhadores líquidos. Quem sempre perdia era o público.
Feitos todos os cruzamentos, Kopschitz calcula que o público, os cidadãos, perdiam, com a desvalorização de seu dinheiro, um valor que seria hoje de R$ 2,45 bilhões por mês, ou R$ 29,4 bilhões por ano.
Hoje, com o atual nível de inflação, feitas as mesmas contas, o público perde algo como R$ 250 milhões ao mês, cerca de 10% do que se perdia antes. No final, o que se deixa de perder ou, o que dá no mesmo, o ganho líquido de renda disponível, é de R$ 2,2 bilhões por mês, ou R$ 26,4 bilhões ao ano, resultado um pouco superior ao obtido por Joaquim Elói Toledo.
Esse tipo de fenômeno ocorre em qualquer país, em qualquer momento que se produz uma queda abrupta da inflação. E fica por aí. Crescimento econômico, nova distribuição de renda, programas sociais, tudo isso depende de novas políticas específicas.
(CAS)

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