São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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'Semplice'

SÍLVIO LANCELLOTTI

Começa hoje o segundo turno do Campeonato Italiano de 1995/96. E não se pode dizer que este seja o melhor torneio de todos os tempos na Velha Bota.
Um terço dos 18 clubes da Série A, a primeira divisão do país, atravessa um momento de rara crise. O Napoli e o Torino continuam à beira da falência.
O presidente da federação nacional, o "onorevole" Antonio Matarrese, vive o drama de uma investigação parlamentar e de outra da polícia judiciária.
Pior: de cinco anos para cá, vêm caindo a média de público por partida e, por extensão, a média de renda abiscoitada por peleja.
No entanto, a média de público da Bota gira em torno de 30 mil pessoas por cotejo. A média de renda gira em torno de US$ 50 mil -bem mais do que acontece na imensa maioria dos embates dos torneios do Brasil.
Nos gramados, os treinadores se tornam a cada rodada mais ofensivos -na Série A, em 17 rodadas, se registraram 390 gols, à média de 3,6 por cotejo.
Despontam artilheiros novos até mesmo em clubes pequenos, como Igor Protti, do Bari (13), ou Nicola Caccia, do Piacenza (9). E não se diga, por favor, que são fundamentais no "calcio" os tentos anotados pelos estrangeiros. Apenas 120 dos 390 gols do certame, 30,8%, foram realizados por eles.
Os árbitros, claro, cometem seus equívocos. O "giudice sportivo" Maurizio Laudi, um ex-produtor de 47 anos, todavia, não perdoa nem os astros famosos. Por xingamento a um árbitro, sem que o mediador percebesse e colocasse o mal-educado no seu relatório, Laudi já suspendeu Beppe Signori, da Lazio, por duas jornadas.
Detalhe: o "giudice" toma as suas decisões, invariavelmente, nas quartas-feiras. Toma irrevogavelmente. Não existem por lá os recursos do "tapetão". Aliás, mesmo os árbitros equivocados acabam punidos, sem escândalos ou confusões.
Nesse cenário, cabe uma pergunta inevitável: por que está diminuindo a média de público na Itália? Simples resposta, que nada se relaciona com o futebol: falta dinheiro no bolso do torcedor. Menos do que falta aqui -mas falta. Por lá, na média, um ingresso custa em torno de US$ 25.
Para apaziguar o problema, os clubes controlam a eventual violência dos seus radicais e dos seus fanáticos -e ainda criam promoções com entradas mais baratas para as mulheres e as famílias. "Semplice", se diz por lá.

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