São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Qualidade na construção civil

GERSON SALVADOR PAPA
O QUE SIGNIFICA "QUALIDADE" NO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL?

Muito se tem falado, escrito e agido a respeito da qualidade ou desperdício na construção civil. Esses são temas realmente preocupantes e, ao mesmo tempo, apaixonantes, o que nos permite, muitas vezes, promover uma discussão com a voz da razão.
É inegável a evolução da construção civil no país ao longo dos últimos anos. É, sem dúvida, o setor que mais emprega mão-de-obra não-especializada em tempos áureos e também o que mais desemprega em tempos de crise.
Consideremos, porém, que o país padece de dois males crônicos, que constituem a base da maior parte dos problemas e discussões sobre os temas abordados: a falta de memória e de divulgação adequada e a falta de padrões estatísticos precisos ou confiáveis.
Na verdade, há uma tendência normal e natural em se qualificar a quantidade do concreto quando pronto e acabado, em função de sua aparência e resistência.
Se analisarmos o concreto enquanto produto acabado, verificaremos que são vários os vetores de influência no resultado final, e um desses fatores é o Concreto Dosado em Central (CDC).
Por sua vez, o setor do CDC tem outros subvetores que influenciam de maneira determinante a sua qualidade.
Portanto, não podemos considerar apenas a resistência, que, sem dúvida, é um dos fatores de qualidade, mas não é o único.
O controle dos materiais no que tange à qualidade dos mesmos e estocagem é de suma importância. Por exemplo:
- cimento: atualmente, boa parte das cimenteiras tem certificação ISO 9.000, o que dá uma tranquilidade razoável com relação a esse insumo. Porém, fatores como tempo de início de pega, giro do estoque dos silos e temperatura do pó também devem ser considerados;
- agregados: as fontes de produção são múltiplas e variadas e, até o momento, nenhum produtor de brita ou areia tem certificação de qualidade. Portanto, torna-se imprescindível um controle de qualidade no recebimerecebimento desses materiais, sobretudo no que tange à curva granulométrica, material orgânico, abrasão Los Angeles e umidade.
Portanto, falar em qualidade já envolve fatores bastante significativos. Isso sem falar em alguns outros, como a dosagem dos materiais, a aferição de balanças e hidrômetros, o controle da umidade dos agregados e a sequência de carga nos caminhões-betoneira.
Antes da dosagem, por ocasião da elaboração das fórmulas de dosagem ("tabela de trapos"), há, da mesma forma, fatores importantes que devem ser considerados, pois vão influir decisivamente nessa face do processo.
Durante o processo de homogeneização, é preciso atentar para o tempo de homogeinização e transporte, a velocidade do giro do balão e o estado das facas que influenciam diretamente o resultado.
Dessa maneira, podemos ver que são múltiplos os fatores de qualidade passíveis de serem controlados pelo cliente além da resistência, inclusive por força da NBR 12.655. O concreto dosado em central (CDC) não é uma "commodity", mas sim uma prestação de serviços, com valor tecnológico agregado.
A importância da estrutura enquanto fator resistente, durável e estável está no concreto, que não deve ser avaliado em função exclusiva de preço e resistência.
O controle de qualidade não é o controle da resistência.

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