São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 1996
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A ética da imprensa esportiva

JUCA KFOURI

Não é de hoje que jornalistas esportivos confundem a opinião pública misturando suas atividades na imprensa, principalmente nos meios eletrônicos, com promoção de eventos, propaganda das mais variadas, venda de placas em estádios, serviços de marketing a clubes e federações, enfim, com uma série de atividades que, se são tão dignas como quaisquer outras profissões exercidas honestamente, não devem se confundir com a de jornalista.
Daí não ser estranho que em toda pesquisa de opinião que se faça a credibilidade da imprensa ficar sempre nos últimos lugares.
Jornalistas esportivos são, em regra, bastante notórios e devem contribuir em boa parte com a baixa avaliação feita pela sociedade brasileira.
Não bastasse essa confusão de papéis, as associações de jornalistas esportivos pelo país afora costumam receber parte da renda dos jogos como forma de auxílio para sobreviver, na verdade, um pagamento pela "promoção" que fazem dos eventos -como se papel de jornalista fosse promover, não informar.
Tudo isso vem a título da reportagem publicada neste mês pela revista "Placar" sobre três jornalistas que montaram uma empresa para negociar passes de jogadores.
Não são apontadas ilegalidades na matéria, embora a questão não seja mesmo essa. A questão é ética e, aí, sem dúvida, os três pisam feio na bola -e "Placar" presta mais um bom serviço, como é de sua obrigação.
A equipe da revista, por sinal, tem autoridade moral para publicar o que publicou, pois nenhum de seus bons jornalistas jamais contribuiu para a confusão acima mencionada.
Mas há outras questões que não podem ser escamoteadas. A pior promiscuidade entre os que têm a obrigação de informar e os negócios que o esporte proporciona envolve gente muito mais graúda -e esse é um tema proibido para toda e qualquer empresa de comunicação que faça transmissões esportivas. São, em geral, jornalistas os que negociam direitos com a cartolagem -e parte deles a orientação para não noticiar nada que possa contrariar os interesses dos que detém os direitos de transmissão.
Essa realidade, uma "Placar", por exemplo, não pode mais retratar para não conflitar com os planos da TVA, do mesmo grupo.
O que torna dramático o exercício do bom jornalismo quando o limite permite a crítica aos mais fracos e impede a denúncia dos mais fortes.

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