São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem-terra estão dispostos a ter encontro com FHC no Planalto

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pretende ter uma audiência no Palácio do do Planalto para ter "uma conversa olho no olho" com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
A reunião, porém, só será agendada pelos sem-terra após o encontro do comando nacional do movimento, que começa hoje, em Salvador (BA), e acaba no sábado.
Um dos temas a ser deliberado no encontro é se os dirigentes do MST devem aguardar um convite do presidente ou se devem tomar a iniciativa de procurá-lo.
Incra
O MST avalia que o governo federal tem maquiado dados sobre os assentamentos das famílias de agricultores sem terra e não demonstra vontade de fazer a reforma agrária ao manter um presidente interino no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) por 60 dias.
Segundo os sem-terra, o interino no comando deste órgão federal, Raul do Valle, não tem poder decisório. Nas mãos de FHC estariam todas as decisões sobre a questão agrária.
Os sem-terra têm feito quase uma invasão no país a cada um dia e meio, no batizado "janeiro quente" do movimento, por considerar (usando números do governo) que Fernando Henrique não cumpriu promessa de assentar 40 mil famílias em 1995.
FHC afirmou, em entrevista coletiva no último dia 17, que "gostaria muito de conversar cara a cara" com o principal líder e estrategista dos sem-terra, o economista João Pedro Stedile.
Desde 1º de janeiro foram feitas pelo MST 16 invasões no país, envolvendo 6.542 famílias.
Para o governo, foram assentadas 40 mil famílias em 1995. Para o MST, apenas novas 12,2 mil.
O Movimento dos Sem-Terra está mais engasgado com o governo desde que FHC elegeu a entidade como um de seus alvos de críticas naquela entrevista.
Na ocasião, o presidente afirmou que não estava fazendo uma reforma agrária "para o MST" e que via nas sucessivas invasões de terras mais uma "ação política" do que um real sentimento do MST de ver resolvidos os conflitos no campo.
Em possível encontro com FHC, os sem-terra não pretendem abrir mão de sua principal forma de pressão, as invasões. Mas vão cobrar, entre outros itens, empenho do governo no Congresso para aprovar leis que agilizam as desapropriações e mais verbas para a reforma agrária.
O encontro nacional do MST, que acontece de dois em dois anos, vai reunir 173 delegados de 21 Estados e do Distrito Federal.
Novo comando
Os líderes vão discutir a conjuntura do país, as novas táticas e estratégias do movimento (entre elas, a realização de grandes marchas às capitais), as fragilidades internas e eleger a nova direção nacional.
A direção do MST (um colegiado hoje com 15 membros) deverá ser ampliada para 21 integrantes.
José Rainha Jr., líder do movimento na região do Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo), onde a situação voltou a se agravar com a retomada das invasões, está indicado para integrar o comando nacional do MST.

Texto Anterior: Confronto entre os sem-terra do PR deixa dois mortos e três feridos
Próximo Texto: Cresce número de invasões após o novo decreto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.