São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Edmundo troca noite por títulos

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O atacante Edmundo Alves de Souza Neto, 24, diz que está sentindo "um frio na barriga" nos momentos que antecedem sua estréia como jogador corintiano. A partida, às 20h30, será hoje, no Pacaembu, contra o Coritiba.
"A torcida deposita esperança no meu futebol e eu não vou decepcionar. Mesmo sendo um amistoso, dá um frio na barriga até a entrada em campo", comentou.
Sem jogar desde novembro, quando teve uma fissura no pé esquerdo, Edmundo se recupera do trauma do acidente em que se envolveu na madrugada de 2 de dezembro, no Rio de Janeiro.
Na ocasião, o jipe Cherokee do jogador colidiu com um Fiat Uno. Edmundo pode ser julgado sob a acusação de homicídio culposo pela morte de três pessoas na batida.
Desde que chegou a São Paulo, em 9 de janeiro, o principal reforço da equipe de Parque São Jorge para a Taça Libertadores, que veio por empréstimo do Flamengo, mudou seu estilo de vida.
"Tenho procurado levar uma vida mais tranquila. Troco qualquer saída à noite para ser campeão pelo Corinthians."
O retorno a São Paulo marca uma nova fase na carreira de Edmundo.
Além do pedido para não ser mais chamado de "animal", apelido que o caracterizou na época do Palmeiras, ele espera ter um melhor relacionamento com imprensa e torcida.
*
Folha - Como está seu preparo físico e mental para a estréia?
Edmundo - Estou ótimo, cheio de vontade de entrar em campo.
Fisicamente, também não vejo problemas. Conversei com o Toninho (Oliveira, preparador físico do Corinthians), e ele me deu o OK.
O que pode acontecer é eu sentir falta de ritmo, o que é normal.
Folha - E emocionalmente, o jogo não mexe com você?
Edmundo - Mexe. Mesmo sendo um amistoso, dá um frio na barriga até a entrada em campo. A torcida deposita esperança no meu futebol e eu não vou decepcionar.
Folha - Antes de sua volta ao futebol paulista, foi muito discutido o fato de você não gostar de São Paulo. Como você encarou estes comentários e o que está achando do seu retorno?
Edmundo - Algumas coisas a gente fala em momentos de nervosismo e o pessoal explora mesmo.
Se eu achasse de São Paulo tudo aquilo que falam, não teria voltado. Fiquei emocionado com o apoio que os jogadores e a torcida do Corinthians têm me dado.
Nos meus tempos de Palmeiras, tive problemas com a imprensa. Alguns jornalistas enfiavam palavras na minha boca, distorciam o que eu dizia. Prometo respeitar o trabalho de vocês, mas espero que respeitem o meu.
Folha - Você falou do apoio da torcida, mas sabe que ela é traiçoeira. Hoje carrega no colo, amanhã não se sabe... Você não teme uma reviravolta?
Edmundo - Se eu jogar um bom futebol, eles vão aplaudir.
Folha - E os adversários? Como vai ser contra o Palmeiras?
Edmundo - Os palmeirenses não têm motivos para me odiar. Pelo contrário. Enquanto defendi o clube, sempre honrei a camisa e ajudei na conquista de títulos que a torcida não pode esquecer.
Folha - Mas você deve ser provocado...
Edmundo - Tudo bem. Eles me xingam e eu respondo com gols. Minha resposta vai ser em campo, jogando bola.
Folha - E o trauma do acidente, o processo?
Edmundo - Não quero falar sobre isso. Quando você é conhecido, muitos querem que você caia... Foi uma tragédia que poderia acontecer com qualquer um. Como foi comigo, que já sou polêmico...
Folha - Mas você já se recuperou do trauma?
Edmundo - Estou com a cabeça em paz. Tento refletir, ficar só com a família, com os amigos. Preciso de privacidade. Quero levar uma vida mais tranquila.
Meu pensamento é ganhar títulos, principalmente a Libertadores. Troco qualquer saída à noite para ser campeão pelo Corinthians.
Folha - O que você está achando do elenco corintiano? Dá para ganhar a Libertadores?
Edmundo - É um grande time. A prova veio no ano passado, com os títulos da Copa do Brasil e do Paulista.
Tem jogador que eu não conheço direito, ainda nem troquei passes com alguns do time.
Vai faltar entrosamento, mas é uma coisa que vem com o tempo.
Folha - O técnico Eduardo Amorim, dialogando muito com os jogadores, teve um papel fundamental nas conquistas de 95. O que você está achando de trabalhar com ele?
Edmundo - Ótimo. Ele é um cara bacana, competente, sério... É uma pessoa tranquila, que vai nos ajudar a ir para Tóquio.
Folha - E já deu para fazer amizades no Corinthians?
Edmundo - Eu estou conhecendo o pessoal. Dá para sentir que é um grupo unido, que me recebeu muito bem.
No momento, estou mais próximo do Marcelinho, do Ronaldo, que eu conheço melhor. Com o tempo, faço mais amizades.

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