São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 1996
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Rei é eleito a cada cinco anos

DA REDAÇÃO

A imigração chinesa do século 19 foi estimulada pela chegada, na década de 1870, de sementes de seringueira contrabandeadas pelos ingleses desde a Amazônia brasileira, então maior produtora mundial de borracha.
Enquanto esses imigrantes participavam do setor dinâmico da economia exportadora, os nativos malaios permaneciam na agricultura de subsistência ou no extrativismo.
A borracha se adaptou rapidamente ao país, que se tornou o maior produtor mundial, superando o Brasil.
A borracha brasileira voltou a ter importância na Segunda Guerra Mundial, quando japoneses ocuparam a Malásia e cortaram o fornecimento aos aliados.
Na ocasião, antigos seringueiros e nordestinos foram recrutados pelo governo brasileiro para trabalhar na extração da borracha. Ficaram conhecidos como "soldados da borracha".
Com a derrota japonesa, a Malásia voltou ao controle britânico. Os planos para concessão de cidadania para nativos malaios e imigrantes chineses provocaram oposição da nobreza malaia.
A Constituição feita pelos britânicos em fevereiro de 1948 criava a Federação da Malásia a partir dos nove sultanatos e das possessões de Pinang e Málaca. Cingapura ficava de fora.
Nenhum dos 75 membros do Conselho Legislativo seria eleito, e o alto-comissário britânico passaria a aconselhar os sultões "em todas as matérias relativas ao governo de seus Estados".
No mesmo ano, o Exército de Libertação das Raças Malaias -com 90% de integrantes chineses e controlado pelos comunistas- iniciou uma guerra de guerrilhas contra os britânicos.
Até 1952, os comunistas liderados por Chin Peng mantiveram influência sobre o setor chinês e chegaram perto de repetir a atuação de Vo Nguyen Giap na Indochina e derrotar o colonizador.
Mas, a partir de abril de 1950, os britânicos comandados pelo general Harold Briggs mobilizaram 40 mil soldados e 80 mil tropas auxiliares no combate.
Com o objetivo de cortar as linhas de suprimento para os guerrilheiros, cerca de 500 mil agricultores chineses foram expulsos das áreas próximas às florestas, de onde abasteciam os rebeldes -a medida voltou a ser usada na década de 1960 pelo governo malasiano, que acusava chineses de ajudar os indonésios num confronto fronteiriço.
Em 1951, quando a guerra estava praticamente ganha, haviam sido mortos 6.000 guerrilheiros, 1.200 haviam sido tomados como prisioneiros e 1.700 passado para o outro lado. Cálculos da época indicam que os britânicos gastaram 20 mil libras para cada inimigo morto.
O país se tornou independente em 1957, mas Sarawak e Sabah continuaram como possessões britânicas. Seis anos depois, Londres propôs uma federação que incluísse a Malásia, Cingapura, Sarawak, Sabah e Brunei.
Todos menos este último concordaram. Em 1965, Cingapura, de maioria chinesa, deixou a federação e consolidou-se como Estado independente.
Cada Estado da federação tem um Legislativo eleito e um ministro-chefe. O governo federal é controlado por um Parlamento bicameral e a administração está nas mãos do primeiro-ministro.
Cada um dos Estados não-malaios (Málaca, Pinang, Sarawak e Sabah) tem um governador, eleito indiretamente, que funciona como soberano constitucional.
Todos os nove Estados malaios têm um sultão, que funciona como monarca constitucional, mas também é responsável pela religião muçulmana e o idioma.
O monarca constitucional para toda a federação é eleito pelos soberanos malaios para um mandato de cinco anos.
Os malaios, a etnia dominante, formaram uma aliança política -o "Barisan Nasional" ou Frente Nacional- com políticos de Sarawak e Sabah e grupos chineses e indianos da península.
O "Barisan Nasional" mantém maioria no Parlamento desde 1957. As disputas políticas ocorrem dentro do maior partido malaio, dominante na aliança.
História
Antes da expansão marítima européia do século 16, as cidades-Estado do Sudeste Asiático já disputavam entre si a hegemonia comercial na área.
Na metade do primeiro milênio, a disputa ficava entre indianos e budistas que refletiam as diferenças reinantes na Índia.
No século 15 foi fundada Málaca, que se tornou a potência hegemônica na área. Após a conversão de seu governante ao islamismo, a religião se expandiu rumo ao leste, para Bornéo.
A expansão européia na área ganhou força em 1511, quando os portugueses tomaram Málaca, que perderiam para os holandeses um século depois.
Rivais marítimos dos holandeses, os ingleses disputaram o domínio comercial da área. Em 1824, o Tratado Anglo-Holandês consagrou o domínio britânico ao norte do estreito de Cingapura e o holandês ao sul.
A divisão reflete a situação atual, com a ex-colônia holandesa da Indonésia ao sul das ex-colônias britânicas da Malásia, Cingapura e Brunei.
O controle britânico sobre suas colônias se fortaleceu ao longo do século 18. Londres exercia controle direto sobre a área dos estreitos -George Town, Málaca e Cingapura (esta fundada em 1819 por Stamford Raffles).
Os diversos sultanatos malaios assinaram tratados que os colocavam sob influência britânica.
Na década de 1840, James Brooke fez um acordo com o sultão de Brunei para pacificar Sarawak. Conhecido como o "sultão branco", Brooke fundou uma dinastia que governou Sarawak até 1946, quando foi entregue ao governo direto de Londres.

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