São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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Peço a Deus ver Edinho campeão

PELÉ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quarenta anos atrás eu chegava ao Santos e começava a me preparar para disputar o meu primeiro Campeonato Paulista, em 1957.
Eram outros tempos, é claro. Não existia ainda o Campeonato Brasileiro, mas somente o Torneio Rio-São Paulo, e os campeonatos estaduais eram as competições mais importantes do país na época.
Só em 1959 é que foi criada a Taça Brasil, vencida, aliás, surpreendentemente, pelo bom time do Bahia, derrotando a gente na decisão.
Só tenho boas recordações do Campeonato Paulista. Afinal, fui artilheiro dele nada menos que 11 vezes (9 delas seguidas, de 1957 a 1965, além de em 1969 e 1973, minha última disputa de um Paulista).
Em 1958, por sinal, marquei 58 gols, recorde até hoje. Fui, também pelo Santos, onze vezes campeão paulista. É mole?
Hoje acho que os campeonatos estaduais deveriam ceder espaço ao Campeonato Brasileiro, já que temos um país totalmente integrado por terra e pelo ar.
Seja como for, tenho certeza de que teremos mais um campeonato muito equilibrado.
Além dos três candidatos que nos últimos tempos têm sido campeões -Corinthians, Palmeiras e São Paulo-, desta vez o nosso Santos entra com grandes chances, credenciado pela maravilhosa campanha no Campeonato Brasileiro.
Só espero que o Santos não seja mais uma vez vítima de arbitragens infelizes. E, pelo amor de Deus, ninguém veja nisso nenhuma forma de pressão do ministro dos Esportes.
É só o desejo de um torcedor santista a partir de uma simples constatação: fomos prejudicados na final do Campeonato Brasileiro -até o mais fanático dos botafoguenses há de reconhecer, embora isso não diminua o mérito dos campeões.
Agora, com o time mais calejado e ainda mais entrosado, o Santos é candidatíssimo, desde que, é claro, a diretoria possa manter o mesmo grupo.
É óbvio que não será fácil. O Corinthians, último campeão, mesmo tendo que participar também da Taça Libertadores da América, reforçou muito seu já bom elenco e, se Edmundo resolver jogar o que sabe, é destacadamente um dos favoritos do Paulista deste ano.
Como o Palmeiras, depois de um ano em que chegou sempre perto do título, mas não ganhou, também é -e não estou dizendo nada de novo.
Livre do trauma de ter de ser campeão -coisa que, espero, não venha a atrapalhar o time do Santos-, o Palmeiras tem tudo para chegar lá.
O São Paulo, renovado, é ainda uma incógnita. Mas quem pode duvidar da capacidade sempre revelada no Morumbi para montar grandes times?
É de se lamentar, no entanto, que os estádios da capital não estejam ainda em condições de abrigar grandes públicos e que o campeonato comece sem que haja uma solução para a tal da "fita do suborno", um escândalo que não pode ficar sem punição.
Esperemos, enfim, com o perdão do velho chavão, que vença o melhor, aquele que apresentar, dentro do campo, o futebol de mais qualidade.
Porque, acima das nossas paixões clubísticas, esse é o espírito que deve guiar o esporte.
Embora, e aqui é o coração de pai que vai falar mais alto, eu peça a Deus que dê ao Edinho o gostinho de pôr no peito a faixa de campeão que eu recebi tantas vezes.

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