São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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Ex-interventor, Calmon e BC trocam mais acusações

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Às vésperas do envio do relatório sobre a crise financeira do Banco Econômico ao Ministério Público, foi deflagrada uma guerra de acusações envolvendo o Banco Central, o ex-interventor no banco baiano Francisco Flávio Barbosa e o ex-dono do banco, Angelo Calmon de Sá.
Por meio de seus advogados, Calmon de Sá pretende rebater as acusações contra sua gestão a serem feitas pelo BC.
"Nessas horas não se sabe de onde vêm as denúncias, mas nós podemos conseguir documentos para refutar as que já apareceram", disse à Folha Nélson Felmanas, chefe da equipe de advogados de Calmon de Sá.
Ele se referiu a documentos que o BC pretende enviar ao Ministério Público para demonstrar empréstimos supostamente irregulares do Econômico a empresas coligadas. Por telefone, Felmanas citou os termos de um documento do BC que autorizaria as operações.
Barbosa, que prepara o relatório do qual se esperam as principais evidências da má gestão do Econômico, teve aumentado nos últimos dias seu desgaste com o BC devido a sua carta de demissão da interventoria.
Na carta, que teve cópias parciais distribuídas entre técnicos do BC, o ex-interventor acusa a existência de um suposto acordo com o Econômico para a produção de balanços positivos.
A acusação de Barbosa irritou a cúpula do BC, que hoje não descarta a possibilidade de investigar a atuação do interventor à frente do Econômico.
Uma das operações a serem investigadas é o pagamento com títulos sem valor de dívidas de empresas controladas pelo banqueiro José Carlos de Oliveira, do Gulfinvest.
Como o próprio Oliveira confirmou ontem, o Econômico aceitou, na gestão Barbosa, R$ 20 milhões em pagamento de dívidas na forma de TDAs (Títulos da Dívida Agrária). (leia texto abaixo)
Esse pagamento se referia a empréstimos feitos junto ao Econômico, antes da intervenção.
Anonimato
Todas as acusações existentes até agora foram feitas sob anonimato e carecem de provas. Procurado pela Folha, Barbosa, por meio de assessores, disse não querer confirmar o teor de sua carta de demissão, à qual a reportagem teve acesso.
Segundo seu advogado, Calmon de Sá quer "evitar polêmica". "O Angelo está sofrendo um massacre, mas não tem interesse em entrar em choque com o BC".
No BC, porém, avalia-se que Calmon de Sá dispõe de informações capazes de reforçar as suspeitas de omissão do governo diante da crise do Econômico. Documentos já em poder da Procuradoria-Geral da República mostram que o BC sabia dos problemas do banco desde 1989.

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