São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 1996
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França deve decidir se explosão foi a última

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

A França ainda não decidiu se o teste nuclear de sábado foi 210º e último dos que vem realizando desde 1960.
Segundo a agência "Reuter", o ministro dos Assuntos Urbanos, Jean-Claude Gaudin, disse que "este é o fim dos testes nucleares ... estamos rumando para o fim."
O Ministério da Defesa deve processar nos próximos dias as informações obtidas na experiência.
Se os dados estiverem completos, acabam as explosões. Se não, é certo apenas que os testes acabam antes do final de fevereiro.
Na noite de sábado, os franceses explodiram uma bomba nuclear no atol de Fangataufa (Polinésia Francesa, Pacífico Sul), o sexto teste da série que realiza desde setembro do ano passado.
A bomba tinha potência de cerca de 120 quilotons, o equivalente a seis da que explodiu sobre a cidade Hiroshima (Japão) em 1945.
Em outubro de 95, numa viagem aos EUA, o presidente Jacques Chirac havia dado a entender, num programa de TV americano, que a França explodiria seis bombas. O governo, no entanto, jamais disse oficialmente quantos testes seriam feitos.
O comentário de Chirac pode ter sido apenas mais uma das iniciativas que a França tomou para apaziguar a opinião pública mundial (os testes, que a princípio deveriam ser oito, passaram a ser sete; organizações mundiais de fiscalização nuclear foram convidadas aos locais dos testes).
A retomada dos testes pela França foi anunciada no primeiro discurso de Chirac na presidência, em junho de 95. Ele havia tomado posse um mês antes.
Os testes haviam sido banidos pelo governo socialista de François Mitterrand, em 1992. Mitterrand foi o presidente que mais explodiu bombas experimentais.
A França se comprometeu a assinar em meados deste ano o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares. Na companhia da China e da Índia, o país não assinara o tratado parcial de 1968 que proibia explosões na atmosfera.
Depois China e França renunciaram às explosões desse tipo. Os testes de hoje são realizados num poço, sob o mar. França e China são os dois últimos países que continuam a explodir bombas experimentais, oficialmente.
Segundo o Ministério da Defesa, a explosão sábado tinha o objetivo de reunir informações sobre a confiabilidade do arsenal francês, o terceiro maior do mundo depois do americano e do russo.
Outros dois testes haviam sido feitos para testar as bombas com as quais os franceses armam os aviões Mirage e sua frota de submarinos, suficientes para destruir 480 cidades como São Paulo.
Três testes serviram para coletar dados para um programa capaz de simular explosões nucleares em computador.

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