São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 1996
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Cresce tensão entre PT e CUT

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

São apenas formais as relações entre o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, e José Dirceu, presidente do PT (Partido dos Trabalhadores).
Vicentinho e Dirceu nunca foram amigos, mas o distanciamento está aumentando por causa da polêmica envolvendo o acordo da Previdência. O episódio está servindo para ressuscitar diferenças existentes desde a criação do PT entre a ala sindicalista e a de origem em organizações de esquerda.
O presidente da CUT reclama a amigos que Dirceu teria tido um comportamento dúbio no caso da Previdência, às vezes estimulando as críticas de deputados petistas ao aval inicial da CUT ao acordo e, em reuniões com cutistas, adotando discurso mais cordato.
Dirceu e Vicentinho já se reuniram para tentar, sem sucesso, afinar o discurso dos dois sobre Previdência. Luiz Inácio Lula da Silva foi o organizador de um desses encontros, mas desistiu da tarefa.
O presidente do PT tem seguidas explosões a cada entrevista dada por Vicentinho. Dirceu critica o vaivém do sindicalista e não enxerga uma "saída honrosa" para o presidente da CUT no episódio.
Fundado com a intenção de mesclar sindicalistas virgens em política partidária com antigos membros de organizações e partidos clandestinos durante o regime militar, o PT avançou nesse casamento, mas nunca conseguiu superar completamente as desconfianças de ambos os lados.
Vicentinho é, entre os petistas/cutistas do primeiro time, o que tem perfil mais parecido com o de Lula: origem pobre, nordestino, com passagem em fábrica e em direções sindicais. Pensa, assim como o ex-presidente do PT fez um dia, ganhar um mandato de deputado federal.
Na análise da maioria da cúpula petista, Vicentinho está tentando ganhar espaço fora dos limites do PT, para somar isso à condição de herdeiro político de Lula. Já os sindicalistas enxergam na ação de Dirceu um traço de mandonismo tradicional na esquerda.

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