São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Jacutinga e o Brasil

LUÍS NASSIF

A pequena Jacutinga, no sul de Minas, está num dilema. Ou quebra, ou -se entender seu processo a tempo- poderá se tornar um caso exemplar, como modelo de desenvolvimento calcado na pequena empresa.
Nos anos 70, ao lado da vizinha Monte Sião, a cidade incentivou a indústria de malhas, em cima de pequenas e microempresas.
O negócio prosperou, a ponto de convencer médicos, advogados e dentistas a montarem suas próprias empresas.
O sucesso e a falta de tino empresarial acostumou mal as pessoas. As empresas não cuidaram de expandir. O dinheiro que entrava das vendas era transformado em carros e casas.
Quando sobreveio a crise do Real, a economia da cidade desabou. A inadimplência aumentou acentuadamente, a ameaça dos produtos asiáticos e chineses assombrou a cidade, o Mercosul tornou-se uma incógnita.
Tem-se agora que a monocultura das malhas ameaça não só os produtores locais como a própria existência econômica da cidade.
Como sair dessa armadilha?
Além da questão do capital de giro (que afeta o Brasil inteiro) há uma série de problemas tipicamente locais.
Há muito amadorismo, despreocupação com custos, competição autofágica entre as empresas, dependência das vendas do inverno, pouco poder de barganha junto aos fornecedores e por aí afora.
Apesar da cidade ser um centro de produção de malhas conhecido regionalmente, não existe a marca Jacutinga. Por consequência, as 180 malharias da cidade agem individualmente, sem explorar a força do conjunto.
Contemporâneo
Não se sabe se e como a cidade irá resolver seus problemas. De qualquer modo, essa estrutura de produção das malharias de Jacutinga permite a modelagem de alternativas bastante contemporâneas -que deveriam ser melhor analisadas pelos órgãos públicos de fomento.
Hoje em dia, grandes multinacionais -especialmente na área de bens de consumo- passaram a separar venda de produção.
Concentram-se na engenharia dos produtos, no planejamento estratégico, na comercialização e no marketing. E terceirizam toda a produção.
Selecionam fornecedores, estabelecem controles de qualidade, recebem a encomenda e pagam. De um lado, o cérebro; do outro, os músculos.
Esse modelo pode ser adaptado de baixo para cima em qualquer cidade brasileira que tenha desenvolvido uma área ampla de manufatura.
O primeiro passo é constituir uma sociedade anônima municipal, controlada pelos empresários e investidores locais, mas administrada por especialistas, que será a responsável pela comercialização da marca local.
A empresa será a coordenadora dos esforços dos fabricantes locais. Prospectará os mercados interno e externo, fará contatos com grandes redes varejistas, definirá o design e as linhas de produtos, fará as encomendas e controlará a qualidade.
Cada fabricante continuará operando em nível de sua empresa, mas dedicando-se especificamente a produzir bem e barato.
De certo modo, é o modelo que foi consagrado pelos cafeicultores de Patrocínio, em Minas.
O poder público poderia participar da primeira etapa de constituição da empresa, fornecendo infra-estrutura e aglutinando os interessados.
Poderia convocar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para ajudar no desenho do projeto.
Dentro de um programa estruturado, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) poderia ser convocado para coordenar os programas de qualidade e de gerenciamento.
Com essa estrutura, os pequenos fabricantes de Jacutinga passariam a dispor da massa crítica de uma grande empresa.
O modelo facilitaria na obtenção de empréstimos e financiamento, nas negociações com bancos e fornecedores, e na consolidação da marca no mercado nacional e até no internacional.
Erramos
A propósito de nota publicada sexta-feira passada, a coluna recebeu carta do gabinete da primeira-dama, informando que a procuradora Luiza Nagib Eluf não foi à China representando-a, entre outras coisas porque a própria dona Ruth comandava a comitiva do governo brasileiro.
O erro foi da coluna. A ex-secretária Nacional de Cidadania foi representando o Ministério da Justiça, ao qual sua secretaria estava subordinada.

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