São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Samper quer ser julgado novamente, dizem jornais

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Colômbia, Ernesto Samper Pizano, decidiu se antecipar à oposição e pedir que seja julgado rapidamente pelo Congresso. Ele deveria falar no Parlamento na tarde de ontem (noite no Brasil) e, segundo versões da imprensa local, pediria a reabertura do processo.
Samper (pronuncia-se Sampér) é acusado de ter recebido dinheiro dos traficantes de cocaína do cartel de Cali em sua campanha eleitoral de 1994. Ele próprio convocou a sessão extraordinária do Congresso que pode reabrir o processo político.
No ano passado, uma comissão de deputados (governistas, na maioria) decidiu que não havia provas dessas mesmas acusações.
Neste mês, entretanto, o quadro mudou de figura quando o ex-ministro da Defesa Fernando Botero Zea, chefe da campanha eleitoral de Samper, disse que ele recebeu o dinheiro -e sabia dele.
Um julgamento rápido no Congresso, onde Samper já perde apoio do seu próprio Partido Liberal, pode ser uma saída mais ou menos honrosa para ele, que assim deixaria o cargo sem precisar renunciar e assumir a culpa.
Samper continua jurando inocência e diz que conseguirá prová-la neste mês.
Na semana passada, Samper anunciou que convocaria um plebiscito para que a população decidisse sobre seu futuro no cargo. A oposição protestou.
Samper deve continuar insistindo no plebiscito, mas agora diz que vai convocá-lo apenas se voltar a ser inocentado no Congresso.
O processo de impeachment na Colômbia é semelhante àquele ao qual foi submetido o ex-presidente Fernando Collor no Brasil, em 1992. Uma vez que o Congresso aprove o julgamento, o presidente é suspenso até o fim do processo, podendo então ser destituído ou absolvido.
A perda de apoio de Samper no seu partido é tão grande que, nos últimos dias, quatro ex-presidentes ligados ao partido -César Gaviria, Alfonso López Michelsen, Julio César Turbay e Víctor Mosquera- apoiaram o julgamento político dele.
Vários diplomatas e um comandante militar que também querem a saída de Samper deixaram seus cargos, dizendo que não poderiam trabalhar para um governo manchado por tantas denúncias.
O vice-presidente Humberto de la Calle, atual embaixador na Espanha, por sua vez, ganha apoio crescente. O Partido Liberal anunciou ontem que apóia o eventual sucessor de Samper "incondicionalmente", enquanto a sustentação a Samper é apenas formal.
O jornal "El Tiempo" disse ontem que o dinheiro do cartel, US$ 120 mil, foi entregue de avião, quatro dias antes do segundo turno, na cidade de Montería. Uma pesquisa divulgada pela rádio RCN mostra que 65% dos colombianos acham que o Congresso não tem credibilidade para julgar Samper.

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