São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo quer tomar terra de sonegador

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal quer tomar as terras improdutivas de latifundiários que sonegam o ITR (Imposto Territorial Rural) para destiná-las à reforma agrária. Os latifundiários poderão perder suas terras quando o valor da dívida equivaler ao valor da propriedade.
Essa é uma das finalidades do projeto de lei que reformula o ITR, segundo o ministro Raul Jungmann (Política Fundiária).
Com a tomada dos latifúndios improdutivos, ele afirma que o governo não precisará emitir TDAs, títulos públicos, para indenizar as terras. O texto do projeto será enviado ao Congresso neste mês.
"O projeto permite a adjudicação (transferência) das terras dos devedores para pagar o imposto."
Se os latifundiários improdutivos não pagarem o imposto durante seis anos, eles acumularão uma dívida de cerca de 90% do valor do imóvel. Isso porque o projeto aumenta de 4,5% para 15% o ITR anual dos imóveis improdutivos com mais de 5.000 hectares.
Atualmente, apenas 13,13% dos latifundiários pagam o tributo.
O ministro prevê que restarão duas alternativas a esses proprietários: entregar suas terras ao governo ou perdê-las na Justiça.
"O projeto vai tornar impossível a manutenção de um latifúndio improdutivo além de um prazo superior a seis anos", disse.
Outra novidade do projeto é fixar o preço da indenização do imóvel desapropriado com base no valor declarado ao ITR.
A medida visa combater a subavaliação usada para reduzir o imposto. Mas dependerá de parecer jurídico. Ela seria inconstitucional, segundo entidades rurais.
A nova tabela do ITR aumenta de acordo com o tamanho do imóvel e o grau de utilização da área.
Quanto maior a área utilizada do imóvel, menor é o imposto. Para as pequenas e médias propriedades produtivas, o imposto deverá variar de 0,3% a 1%.
O ministro quer aumentar a arrecadação anual do ITR de R$ 400 milhões para R$ 1,6 bilhão. Metade deverá ir para o futuro Fundo Nacional de Reforma Agrária.
Ministério no Pará
Jungmann anunciou que, em outubro, o ministério funcionará durante uma semana em Marabá (leste do Pará), onde será sediada a 28ª superintendência do Incra.
O Pará será o único Estado com duas superintendências. Segundo o ministro, o objetivo é acelerar a reforma agrária na região onde ocorreu, em abril, o massacre de 19 sem-terra.
Além do Incra, o ministro pretende levar a Marabá equipes dos ministérios da Saúde e da Educação, que iniciarão atividades nos projetos de assentamentos.
A partir de novembro, o ministro vai elaborar um cronograma de desapropriações com as entidades ligadas aos trabalhadores rurais. A idéia é fazer um orçamento participativo no ministério.
"O MST (entidade representativa dos sem-terra) será convidado caso modifique sua estratégia de invadir prédios públicos", disse.
O ITR incide sobre o valor da chamada "terra nua", sem benfeitorias. Quando há desapropriação, o governo paga em TDAs o valor da "terra nua", e em dinheiro as benfeitorias da propriedade.
Por isso, segundo Jungmann, o não-pagamento por seis anos do ITR livrará o governo apenas da emissão de TDAs. Para tomar os latifúndios para reforma agrária, o Incra terá de continuar pagando pelas eventuais benfeitorias.
Hoje, o presidente Fernando Henrique Cardoso jantará com Jungmann e o presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Antonio de Salvo, para discutir o projeto do ITR.

Texto Anterior: Radiobrás imprime adesivos "FHC-98"
Próximo Texto: UDR alerta Rainha sobre confronto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.