São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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A resistência dos banespianos

LUÍS NASSIF

Principais vítimas da indefinição sobre os rumos do banco, os funcionários do Banespa lutam com denodo para salvar a instituição.
Consideram o banco viável, principalmente levando-se em conta os chamados ativos intangíveis: marca e penetração no mercado paulista.
Para eles, há equívocos nos números divulgados em 5 de setembro passado, na coluna "Uma proposta para o Banespa" -com base nos quais se concluía que, para continuar operando, após o saneamento dos passivos do Estado, o Banespa precisaria reduzir seu tamanho em dois terços.
O primeiro equívoco seriam os valores referentes à folha de salários -de R$ 180 milhões mensais, segundo a coluna.
Os funcionários explicam que esse valor corresponde ao total das despesas administrativas. Folha e encargos respondem por R$ 116 milhões.
O segundo número é com respeito ao total dos ativos. Na coluna, dizia-se que chegaria a apenas R$ 10 bilhões, dos quais se deveriam descontar R$ 3 bilhões em créditos podres.
Eles explicam que o total de ativos ascende a R$ 15 bilhões -se se levar em conta os repasses. E os R$ 3 bilhões de créditos podres foram provisionados no ano passado. Neste ano, já houve recuperação de R$ 150 milhões no primeiro semestre.
Sustentam que, do total de ativos, apenas 30% são de recursos públicos -englobados, aí, depósitos judiciais e salários do Estado. Enquanto a Nossa Caixa -segundo essas fontes- estaria com 95% dos recursos comprometidos apenas com o Estado.
Nossa Caixa
O problema é a Nossa Caixa. A perspectiva de serem incorporados por ela não os atrai. Lembram, de um lado, que possuem experiência e corpo técnico nas áreas bancárias mais sofisticadas -tanto no mercado externo quanto no mercado de operações segmentadas.
No primeiro semestre deste ano, apenas o lucro da corretora foi de R$ 62 milhões -o mesmo que o lucro total da Nossa Caixa.
Com todos os atropelos decorrentes da intervenção do Banco Central, os funcionários informam que as perdas de posição do banco foram mínimas.
Preservaram seus quase 3 milhões de correntistas e mantiveram-se em terceiro lugar no ranking nacional de captações -com R$ 12,2 bilhões em recursos. Sua participação no total de depósitos à vista do sistema cresceu de 8,2% para 11,1% no período de intervenção.
Além disso, emprestou mais para a agricultura paulista que o conjunto dos demais bancos. E tem um dos mais modernos parques tecnológicos, com todas as agências interligadas on line -investimentos totais de R$ 700 milhões.
Saída
Mas qual a saída?
O porta-voz do grupo -deputado Lucas Buzatto (PT)- diz que o primeiro princípio de salvação do Banespa é não defender nenhuma proposta que não seja aceita pela opinião pública.
Concorda que a manutenção de dois bancos estaduais não tem lógica. E nisso difere dos xiitas, que até hoje não aceitaram sequer que o Estado abrisse mão de um aeroporto.
Sua proposta é a de transformação do banco estatal em banco público -ou seja, com as ações pulverizadas entre o público, entre os quais prefeituras paulistas que teriam interesse em sua preservação.
Hoje em dia, o banco possui 143 mil acionistas minoritários -que seriam prejudicados em caso de liquidação.
Nos próximos dias, é possível que o grupo entre em contato com especialistas internacionais, visando procurar uma fórmula que permita viabilizar o banco.
O fato de uma eventual fórmula ter a adesão dos funcionários já seria grande trunfo para eventuais interessados.

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