São Paulo, terça-feira, 1 de outubro de 1996
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Musa de Maillol vem ao país inaugurar mostra do artista

FERNANDO OLIVA
DA REDAÇÃO

Dina Vierny, ex-modelo do escultor francês Aristide Maillol (1861-1944), desembarca no Brasil no próximo dia 20 de outubro. Na bagagem, 40 obras de um dos mais importantes escultores da virada do século.
A primeira visita de Dina Vierny ao Brasil, trazendo sua coleção de esculturas, integra o projeto França-Brasil de integração cultural. Além da mostra Maillol, os franceses expõem em São Paulo obras dos artistas Pierre Soulages, Jean Rustin, Alain Séchas e da designer e arquiteta Andrée Putman.
Pierre Soulages, 78, um dos maiores pintores franceses ainda em atividade, faz sua primeira retrospectiva na América Latina com cerca de 50 obras. Jean Rustin, 68, expõe no Museu de Arte Contemporânea. Alain Séchas apresenta suas instalações na 23ª Bienal Internacional de Arte e Andrée Putman inaugura mostra de design para mobiliário na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) -entrevista à pág. 4-8.
Dina Vierny, que também já posou para Henri Matisse (1869-1954) e Pierre Bonnard (1867-1947), tem hoje 76 anos e é responsável pelo Museu Maillol, em Paris. O corpo da ex-modelo e atual galerista pode ser visto, entre outras esculturas, nas clássicas "La Rivière", "L'Air", "La Montagne" e em cerca de 30 quadros e centenas de desenhos feitos por Maillol.
Vierny selecionou e emprestou as obras do escultor que serão expostas na Pinacoteca.
Atualmente, ela não se deixa fotografar, não permite gravações de suas entrevistas e distribui para a imprensa um retrato branco e preto em que aparece mais jovem. Por telefone, de Paris, Dina Vierny deu a seguinte entrevista à Folha:
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Folha - Como era posar para Maillol?
Vierny - Muito simples, natural, porque ele não exigia nada. O modelo era acessório. De vez em quando ele olhava a modelo, como uma consulta à natureza. Mas finalmente, quando já tinha a idéia pronta, esquecia-nos. Maillol não copiava, ele inventava.
Folha - Você concorda que Maillol representa a transição entre Auguste Rodin e os modernos?
Vierny - É ainda mais que isso. Maillol é o primeiro escultor a se libertar do século 19. Na arte do século passado, sempre havia um tema, uma história a ser contada, um movimento característico. E, de repente, Maillol rompe com tudo. Ele encontra o silêncio.
Folha - O silêncio?
Vierny - Sim. A escultura do século 19 não conhecia o silêncio. Maillol simplifica as formas, abole o tema. O que ele buscava era a percepção da arquitetura das formas. E foi por meio dele que chegamos à escultura moderna. Maillol é o Cézanne da escultura.
Folha - O que mais a interessa em Maillol?
Vierny - É um artista que vai na direção do absoluto. Não interessava se a escultura iria se parecer com alguém ou alguma coisa. O que ele queria é que transmitisse um sentimento, que fosse bela em todos os sentidos. Suas obras são jóias incomparáveis.
Folha - E qual o papel de "Méditerranée" na obra de Maillol?
Como disse André Malraux, é o início do modernismo na escultura, porque foi a primeira obra a ser exposta no Salão de Outono de 1905, em Paris, que não se parecia em nada com o século 19. Em "Méditerranée", o plano é simples e o volume, reduzido. Há uma espécie de liberdade, e há o silêncio. Esta é a ruptura, a grande revolução.
Folha - Quais artistas guardam influências de Maillol?
Vierny - Posso citar Jean Arp (dadaísta francês, 1887-1996), mas a maioria das pessoas que copia Maillol, copia mal, produz uma espécie de caricatura.
Folha - Porque você não gosta de sair em fotografias?
Vierny - Porque estou velha, feia de fazer medo (risos). Mas, quanto à força de trabalho, sou como antes. Uma vez, Maillol me disse: "Te proíbo de envelhecer". E eu estou cumprindo a ordem.

LEIA mais sobre o projeto França-Brasil à pág. 4-8

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