São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Vilma Maia agora é Faria

MAURICIO STYCER
DO ENVIADO ESPECIAL A NATAL

A Vilma Maia que se elegeu prefeita de Natal em 1988 e a Vilma Faria que deve ir para o segundo turno na eleição deste ano na cidade são a mesma pessoa.
Um homem não teria esse problema de identidade: entre uma eleição e outra, Vilma se separou de seu primeiro marido, perdeu o sobrenome dele, voltou a se casar, mas adotou o nome de solteira.
A história é ainda mais complicada. Vilma se casou aos 17 anos com Lavoisier Maia, um cacique da política local. Tiveram quatro filhos. Separou-se depois de mais de 20 anos de casada. Algum tempo após a separação, se casou com o seu então chefe de gabinete na prefeitura, o advogado Herbert Spencer. Um escândalo.
Vilma acha que superou bem o episódio. "Quando me separei, encarei isso com a maior naturalidade. Tive a coragem de contar a história", diz.
As mudanças no estado civil levaram também a radicais mudanças partidárias. Vilma foi do PDS, o sucessor da Arena, passou pelo PDT de Brizola e está desde 1994 no PSB de Miguel Arraes.
Vilma não gosta da imagem de "mulher-macho" como um sinônimo de mulher nordestina de fibra. "Para ser prefeita, não precisa ser macho. Precisa ser guerreira. Precisa ser uma mulher que não se intimida, que vence obstáculos. Mas também uma mulher com sensualidade, pureza e idealismo."
Mais que Maria Bonita, na opinião de Vilma, quem representa a mulher nordestina é Clara Camarão, mulher de Filipe Camarão (1601-1648), o chefe indígena que lutou junto com os portugueses contra os holandeses no Brasil.
"Mulher de verdade"
A índia Clara Camarão participou da luta ao lado do marido. "Maria Bonita não se destacou como guerreira, mas como companheira de Lampião", diz.
Como sua adversária Fátima Bezerra diz não ser vaidosa, Vilma Faria explora o seu lado feminino.
"Vamos mostrar que é uma mulher, mas uma mulher de verdade, que vai governar Natal outra vez", disse Vilma, há uma semana, em favela no bairro das Rocas.
Nos cartazes espalhados pela cidade, Vilma aparece com o cabelo castanho escuro. Na semana passada, estava com o cabelo bem mais claro. "Me preocupo com a minha aparência", diz.
Vilma gosta de falar dos efeitos negativos da globalização da economia. Gosta tanto do tema que o abordou até diante de pescadores num bairro paupérrimo de Natal.
Os pescadores só demonstraram interesse quando ela disse: "Temos que educar o povo a comer o nosso peixe".
(MSy)

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