São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Premiados cedem espaço a revelações

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo celebra sua vigésima edição frisando sua aposta em revelações.
Pela primeira vez em anos, sua seleção oficial deixa de apresentar ao menos um dos vencedores dos três grandes do circuito de festivais -Berlim, Cannes e Veneza.
Não que faltem títulos de destaque dessas mostras, incluindo alguns aquinhoados com prêmios secundários. Mas, entre atrações das principais disputas internacionais e descobertas dos ciclos paralelos, o festival paulistano apresenta uma maior representação do segundo grupo.
Seu perfil se aproxima ainda mais de festivais como Roterdã e Locarno, célebres pela coragem em alavancar cinematografias emergentes e diretores ainda desconhecidos.
Faz todo sentido, portanto, inaugurar o festival deste ano com o "Basquiat" de Julian Schnabel. Injustamente esnobado pelo júri de Veneza-96, a estréia na direção de Schnabel é uma delicada cinebiografia que vai contra a corrente mitificadora das produções americanas do gênero.
A "política dos autores", contudo, marca presença. Entre outros, poderão ser conferidos os novos filmes de Otar Ioseliani ("Bandoleiros"), James Ivory ("Surviving Picasso"), Aki Kaurismaki ("Nuvens Passageiras"), Spike Lee ("Garota 6"), Ken Loach ("A Canção de Carla"), Mario Monicelli ("Facciamo Paradiso"), Manoel de Oliveira ("Festa"), Eric Rohmer ("Conto de Verão"), Raoul Ruiz ("Três Vidas e Uma Só Morte") e Volker Schloendorff ("O Ogro").
Uma lista nada desprezível, reconheça-se, ainda que, com exceção de Ioseliani, Kaurismaki, Ruiz e, dizem, Rohmer, não inclua picos das respectivas filmografias.
Uma real descoberta compensa dez decepções. "Guy", em que Michael Lindsay-Hogg ("Feitiço das Estrelas") torna uma câmera simultaneamente objetiva e subjetiva nas mãos de uma jovem cineasta, é uma delas.
"Ricardo 3º - Um Ensaio", em que Al Pacino recria Shakespeare no cinema mesclando documentário e ficção, é outra. "Poucos de Nós", do lituano Sharunas Bartas, rouba a cena por onde passa.
Assim como a presente e enriquecida 8ª Mostra Rio, também a mostra paulistana aumenta o espaço dedicado ao cinema documentário.
São obrigatórios "A Batalha em Torno de Cidadão Kane", sobre o embate Hearst versus Welles; "Fora de Órbita", uma original visão da derrocada do império soviético do interior de uma estação espacial; e "Dizer o Indizível - A Mensagem de Elie Wiesel", de Judit Elek.
Até o Brasil chama a atenção com "Antártida, O Último Continente", de Alberto Salvá e Monica Schmiedt. Pena que além dele se contem até aqui apenas outros três títulos nacionais ("Ed Mort" à frente) confirmados.

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