São Paulo, quarta-feira, 2 de outubro de 1996
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Afegãos impõem lei islâmica

Taleban recua em restrições às mulheres

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A milícia estudantil Taleban anunciou ontem que vai abrandar as leis islâmicas adotadas no país desde o final da semana passada, quando o grupo tomou o poder.
O auto-intitulado vice-chanceler Sher Mohammed Stanakzai deu a primeira entrevista coletiva de um membro do novo governo. Ele disse que dentro de algum tempo as mulheres vão ter autorização para voltar a estudar e trabalhar -o que foi proibido.
"Segundo a lei islâmica, a educação é uma obrigação para as mulheres. Não estamos contra a educação delas", disse.
As declarações, que caracterizam um recuo em relação aos primeiros dias, parecem ser uma reação à indignação da comunidade internacional frente às medidas.
O governo fundamentalista islâmico do Taleban ainda não foi reconhecido pela comunidade internacional. Ontem, seus membros pediram à ONU e aos outros países que aceitem o Taleban como legítimo governo do Afeganistão.
Eles anunciaram que o líder do grupo, o "mullah" (religioso) Mohammed Omar, chegou a Cabul para tomar posse no governo.
O novo vice-chanceler disse que as mulheres foram suspensas do trabalho até que os escritórios afegãos estejam em condições de receber os dois sexos "de acordo com a lei islâmica". O mesmo foi feito com as escolas, até que o novo governo defina um sistema de ensino considerado condizente com as regras religiosas.
Stanakzai também se mostrou conciliador em relação ao principal inimigo do grupo, o ex-general comunista Abdul Rashid Dostum, que controla o norte do país.
"Esperamos que nosso problema com ele seja resolvido com negociações, porque não queremos brigar mais e sabemos que o general Dostum tampouco quer."
A principal disputa dos dois grupos acontece no túnel Salang, ao norte de Cabul, considerado um ponto estratégico.
Taleban disse ontem que conquistou a entrada sul do túnel. "Mas ainda não nada aconteceu lá", disse a rádio do governo, na noite de ontem (à tarde no Brasil).
O porta-voz negou que o Taleban tenha dado um ultimato para Dostum liberar o túnel.
O secretário-geral do Conselho de Segurança da Rússia, o general Alexander Lebed, advertiu o Taleban para não tentar violar as fronteiras da antiga União Soviética -que é vigiada por soldados russos e junto à qual está Dostum.
O presidente russo, Boris Ieltsin, propôs uma reunião da CEI (Comunidade de Estados Independentes, grupo que reúne países da ex-URSS) para avaliar a situação no Afeganistão.
Os EUA anunciaram ontem que vão mandar um diplomata a Cabul para avaliar a situação no país. O novo governo se mostrou aberto a reatar relações com os EUA.
A comissária da União Européia para Direitos Humanos, Emma Bonino, criticou as restrições às mulheres no Afeganistão e o silêncio da ONU sobre o tema.

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