São Paulo, sexta-feira, 4 de outubro de 1996
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A conta-turismo explode

LUÍS NASSIF

As discussões sobre superávit cambial estão centradas na balança comercial e no flutuante. Mas há dois fenômenos preocupantes ocorrendo que não estão a merecer a devida atenção: a conta-turismo e o Paraguai.
Apenas no primeiro semestre do ano, o déficit em turismo foi da ordem de cerca de US$ 1,5 bilhão. No ano, pode chegar a mais de US$ 3 bilhões. No flutuante, estima-se em US$ 8 bilhões o dinheiro carreado para a zona franca do Paraguai.
No total, US$ 11,5 bilhões, enquanto todas as ações internas limitam-se a tratar da balança comercial e seu déficit esperado de US$ 2,5 bilhões.
Não se trata, obviamente, de restringir a saída dos turistas brasileiros. Um dos grandes avanços no processo de abertura foi justamente permitir o livre trânsito dos turistas. O cartão de crédito internacional correspondeu a um certificado de cidadania mundial.
Trata-se de começar a atuar de maneira mais eficiente sobre o turismo interno. Não se tem notícia de projetos mais estruturados nessa direção.
Além da questão cambial, o turismo é um dos mais fortes fatores de geração de emprego. Trata-se de uma indústria com o poder de envolver toda a comunidade dos pequenos centros.
No entanto, o desenvolvimento do turismo interno esbarra em fatores relevantes, que precisariam ser extirpados o quanto antes, para que se implantasse o turismo de massa de boa qualidade -tanto para o público interno quanto externo.
No primeiro semestre do ano, as receitas com turismo foram da ordem de US$ 389 milhões, contra US$ 500 milhões no ano passado.
Nem há como ser diferente, dada a diferença de custos entre o turismo brasileiro e o internacional.
'Custo Brasil'
Um dos primeiros pontos a atacar é a ampliação do investimento em redes hoteleiras de baixo custo. Hoje em dia, a diária em um hotel de Porto de Galinhas é superior ao de um bom flat parisiense.
Além do preço, essa faixa de hotéis médios não conseguiu avançar na direção de melhores serviços ou de equipamentos modernos.
Um segundo ponto relevante é a questão dos transportes. A demora do governo em desregulamentar a aviação civil é extremamente maléfica para o país como um todo.
Em pleno 1996, com o fim da Guerra Fria, com integração comercial entre países, não tem cabimento continuar submetendo a aviação civil aos controles e à lógica militar. Aviação é meio, não fim. Como tal, tem de se subordinar a uma visão econômica e mercadológica, não a questões de segurança nacional.
Um terceiro ponto é a questão das atrações turísticas como um todo. Ultimamente, os bancos de negócios descobriram o potencial financeiro dos chamados parques temáticos. Há bom volume de dinheiro disponível para esse tipo de turismo.
Há a necessidade de um grupo interministerial que trate de todos esses pontos sistemicamente, conferindo ao turismo a devida relevância.
Paraguai
O segundo fator de dreno cambial é o Paraguai. Com Mercosul e tudo, ou se enfrenta rapidamente a questão ou não haverá esforço comercial capaz de compensar essa extraordinária evasão de divisas via contrabando.

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