São Paulo, domingo, 6 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O plano de domínio

JANIO DE FREITAS

A fracassada candidatura de José Serra e a participação psicopatológica de Sérgio Motta na campanha paulistana constituíram, apenas, a primeira das três partes de um plano político ambicioso, cujo insucesso inicial não inviabiliza, ainda, as etapas seguintes.
Os paulistas em geral, e particularmente os que se sentiram chocados ao descobrir como é Sérgio Motta, merecem estar desde logo cientes de que a participação dele na campanha teve a intenção de ser, tanto ou mais do que contribuição a Serra, um ensaio do próprio Motta para a segunda parte do plano.
Sérgio Motta, como foi publicado durante meses, seria o candidato do PSDB, tendo sido por isso, e não pela candidatura de Serra, o seu negócio com a Igreja Universal do Reino de Deus. Serra, por seu lado, reservava-se para a disputa pelo governo paulista, daqui a dois anos, ou mesmo pela Presidência, se inviabilizada a recandidatura de Fernando Henrique Cardoso.
Um tanto por problemas de saúde, outro tanto por motivos político-eleitorais, Sérgio Motta não pôde se candidatar. Serra não admitia deixar o ministério pela candidatura paulistana, mas afinal cedeu, cobrado em nome do plano maior. Ceder, no caso, significou trocar de papel com Sérgio Motta.
O plano, então, ficou assim: Serra, na prefeitura, asseguraria a base da candidatura de Sérgio Motta ao governo do Estado. Como também estaria se desenvolvendo, a esta altura, a campanha de Fernando Henrique para a reeleição, as duas campanhas se confundiriam, uma empurrando a outra no Estado que concentra 25% do eleitorado nacional. A compensação para Serra seria a sua indicação para sucessor de Fernando Henrique. É esta linha de pretensões que leva Sérgio Motta a dizer que o PSDB pretende ficar no poder muito tempo, pelo menos 20 anos.
As etapas do plano permitem entender muitas outras coisas, como, por exemplo, a injustificada protelação das privatizações de telefônicas e outros serviços controlados pelo Ministério das Comunicações. Nestas privatizações e nas demais atribuições do ministério de Sérgio Motta há instrumentos poderosíssimos para todos os tipos de transações, sejam políticas ou outras.
O desastre da candidatura de Serra leva a alterações de tática, mas não é provável que altere qualquer dos demais objetivos do plano. Seja em relação a São Paulo ou, sobretudo, ao continuísmo na Presidência.
A propósito, as alfinetadas entre Sérgio Motta e Antonio Carlos Magalhães não comprometem, como faz crer o noticiário político, as relações entre o PFL e os propósitos de Fernando Henrique. Os pefelistas estão sempre onde o poder maior está, seja qual for o preço disso.
Quando Antonio Carlos Magalhães insinua a possibilidade de resistência pefelista à reeleição, o melhor é não esquecer que a presidência da Câmara está posta pelo deputado Luís Eduardo Magalhães a serviço de todas pretensões de Fernando Henrique Cardoso, sem excluir daí, muito ao contrário, a reeleição.
Mesmo quanto aos efeitos da suposta indignação do PPB de Maluf, é conveniente guardar, por ora, alguma cautela. Filhas do mesmo útero que gerou o PFL, as bancadas do PPB na Câmara e no Senado também sentem, mais do que qualquer outra coisa, atração irresistível pelo papel de servidores do presidente, não importa qual seja nem o que pretenda.
A aferição de efeitos maiores das eleições, supondo-se sua existência, requer ainda um tempinho.

Texto Anterior: RS espera demissão de 20 mil
Próximo Texto: Incêndio deixa seis bairros sem energia; Acidente com ônibus deixa 1 morto em SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.