São Paulo, segunda-feira, 7 de outubro de 1996
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Assaltos fazem igrejas contratar vigias

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Preocupados com os constantes assaltos durante as missas, várias igrejas de São Paulo estão contratando seguranças particulares para proteger seus fiéis.
A situação é pior no centro, onde viciados e meninos de rua furtam bolsas e carteiras nas missas.
Segundo o padre Alcides Franzói, 50, da igreja de Santa Cecília (região central), os assaltantes agem principalmente quando os fiéis se ajoelham para rezar no genuflexório e deixam as bolsas em cima do banco.
"A pessoa fica concentrada na oração e, quando percebe, já ficou sem a bolsa", afirmou o padre.
Para tentar espantar os ladrões, a igreja contratou há cerca de dois meses o segurança José Otaviano Rodrigues, 64.
Ganhando R$ 200 mensais, ele vigia a igreja diariamente, das 7h às 18h. "Quando eu vejo algum suspeito, ponho ele para correr", declarou Rodrigues.
Além do segurança, a igreja também colocou cercas em volta do prédio. Mesmo assim, segundo o padre Franzói, no final de setembro, assaltantes entraram no escritório da igreja durante uma missa e levaram a aparelhagem de som, avaliada em R$ 2.000.
Alerta aos fiéis
Em seus sermões, além das mensagens religiosas, o padre Franzói também alerta seus fiéis para não deixarem bolsas e carteiras ao alcance dos ladrões.
"Concordo que não é uma atitude comum, mas também é minha função proteger os fiéis", disse.
A Catedral da Sé também recorreu aos seguranças para inibir os punguistas. Como na igreja de Santa Cecília, dois seguranças trabalham diariamente, das 7h às 19h.
"A função dos seguranças não é correr atrás de bandidos, mas fazer as pessoas se sentirem mais seguras dentro da igreja", disse o padre Michelino Roberto, 30.
Outras igrejas do centro também são vigiadas por seguranças particulares, mas não quiseram comentar o assunto. É o caso da Igreja de São Bento, do Sagrado Coração de Jesus e da Imaculada Conceição -todas católicas.
O monsenhor Arnaldo Beltrami, vigário episcopal de comunicação da Cúria Metropolitana, afirmou que vem aumentando o número de igrejas que contratam seguranças. Mas a Cúria não tem nenhum levantamento sobre o assunto.
As igrejas evangélicas também protegem seus templos. Seguranças com coletes e cassetetes podem ser vistos na sede da Deus é Amor, no Glicério, e da Universal do Reino de Deus da rua da Consolação.
Mesmo com os seguranças, vários fiéis estão tomando suas precauções para evitar assaltos.
A dona-de-casa Constância de Alvarenga, 64, que assiste diariamente a missa das 12h na Sé, leva apenas "uns trocados" no bolso.
"Já vi muitos assaltos dentro da igreja. Como os bandidos não respeitam nem a casa de Deus, eu deixo minha bolsa em casa", declarou Constância.

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