São Paulo, segunda-feira, 7 de outubro de 1996
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Quando a retranca saiu de campo derrotada

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A retranca perdeu de 2 a 1 no jogo duro que se prolongou por toda a tarde de sábado, em três frentes distantes.
Em Kiev, fez seu primeiro gol, graças, sobretudo, ao imponderável e ao goleiro do Barcelona, Vítor Baía: Ucrânia 2 x 1 Portugal, pelas eliminatórias da Copa da França.
Logo no comecinho da partida, um tiro longo e o rebate falso de Baía, pronto, gol da Ucrânia, que se recolheu à sua pequena área e ali ficou resistindo ao assédio luso até o finalzinho, quando João Pinto, de virada, empatou.
Mas, já nos descontos, na segunda investida ucraniana, o gol da vitória, um voleio que colheu Vítor Baía adiantado e a pátria lusitana de ceroulas.
Retranca, 1 a 0.
É bem verdade que, se os portugueses batessem a bola refinada que julgam possuir, o resultado teria sido outro. Mesmo assim, Portugal foi infinitamente superior à Ucrânia e merecia, ao menos, o empate, só pela iniciativa de atacar sem cessar durante todo o embate.
*
O empate veio um pouco mais tarde, em Cardiff, onde Holanda e País de Gales disputavam outra vaga para o próximo Mundial. Desde o início das escaramuças, ficou estabelecido o seguinte: os holandeses ficariam com a bola e os galeses fincariam trincheiras dentro de sua pequena área.
E assim foi, não sem antes os galeses fazerem seu golzinho, na única e escassa vez em que se aventuraram à área inimiga, logo no comecinho.
A Holanda, que já não lembra os tempos nem mesmo do recente Ajax campeão do mundo quanto mais de Cruyff, pelo menos melhorou substancialmente em relação ao que foi na Eurocopa. Partiu pra cima do adversário, perdeu uma infinidade de gols, fez a fama do goleiro galês, um típico caminhoneiro de meia idade com bigodes à mexicana, mas conseguiu virar, com três gols em sequência, nos últimos dez minutos de partida.
Retranca, 1 a 1.
*
O desempate ficou por conta do jogo em Recife, onde um São Paulo desfigurado pela ausência de meio time titular plantou sua retranca para arrancar o mínimo de um Sport que cumpre campanha máxima no Brasileirão.
E olhe que, se o atacante França completa com sorte aquela pequena obra-prima que desenhou no segundo tempo, era bem capaz de o tricolor ter extraído um milagre desse confronto.
Mas a sorte costuma pender para os que a procuram com a lanterninha da lógica: quem mais ataca tem mais chances de vencer. E quem mais atacou foi o Sport.
E a retranca saiu de campo mais uma vez derrotada. Para o bem do futebol.
*
Esse Luís Muller, que renasce no Sport num tempo em que seus contemporâneos já penduraram as chuteiras, é um cigano do futebol que nasceu no Morumbi, em meados dos anos 70. Por isso, o Muller, menos que fictício sobrenome, justa homenagem ao legendário goleador alemão da Copa de 74, Gerd Muller.
Mas era a Cruyff que o comparavam quando ainda garoto. Na época, uma heresia. Hoje, um torto sorriso de ironia.

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