São Paulo, segunda-feira, 7 de outubro de 1996
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Mostra expõe as facetas de Paulo Emilio

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Não é um encontro qualquer: Gilda de Mello e Souza, Antonio Candido e Décio de Almeida Prado debatem "A Geração de 'Clima'" hoje, às 20h, no anfiteatro da Reitoria da USP (Cidade Universitária, zona oeste).
"Clima" é a revista cultural criada nos anos 40, que reuniu nomes que se tornariam centrais na intelectualidade paulista, como Ruy Coelho, Alfredo Mesquita, Lourival Gomes Machado. Além dos citados acima. E além, claro, de Paulo Emilio Salles Gomes, que é o centro de tudo. São os famosos "chatoboys" a que se referia Oswald de Andrade.
A mesa-redonda de hoje faz parte da mostra "Paulo Emilio 80 Anos", que começou no dia 1º de outubro.
É um dos mais importantes eventos culturais do ano que, por azar, ocorre simultaneamente à Bienal e à Mostra Internacional de Cinema.
O conjunto da mostra procura dar conta das diversas facetas de Paulo Emilio: crítico, ensaísta e professor de cinema, crítico de cultura, fundador da Cinemateca Brasileira, romancista.
A enumeração está longe de esgotar a importância desse intelectual que completaria 80 anos em 17 de dezembro deste ano.
Paulo Emilio foi autor de um livro sobre Jean Vigo responsável pela redescoberta do cineasta de "Zéro de Conduite" (publicado originalmente na França), mas também de uma detida análise da obra do primeiro Humberto Mauro (até "Ganga Bruta", de 1933).
Para Paulo Emilio, o cinema é uma arte impura, até por seu caráter de espetáculo, mas por isso mesmo capaz de refletir a um tempo as demais artes, o espectador e o mundo em que os filmes são produzidos e consumidos.
O fato mais polêmico de sua vida foi sua conversão ao cinema brasileiro. "Compreendo que não se goste do cinema brasileiro e confesso mesmo sentir relutância em assistir aos nossos filmes. Minha única desculpa é a natural repugnância em enfrentar um desprazer sempre renovado", escrevia em 1959, sobre "Ravina" ("Suplemento Literário, vol. 2, pág. 41).
Paulo Emilio é um divisor de águas do pensamento cinematográfico no Brasil. Sua formação clássica, francesa, funda-se na observação da história e da sociedade e não apenas da estética para a análise dos filmes.
A um certo momento trouxe esse modo de ver para o cinema brasileiro, visto não como subproduto de um país subdesenvolvido, mas como sua expressão.
Não é exagero dizer que todo o pensamento crítico contemporâneo é balizado, ainda hoje, pelas idéias de Paulo Emilio.

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