São Paulo, terça-feira, 8 de outubro de 1996
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Para Berzoini, paralisação foi ousadia

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ricardo Berzoini, disse ontem que a greve, encerrada na sexta-feira, foi uma ousadia.
Berzoini admitiu que o comando de greve resolveu bancar o movimento, mesmo sabendo que a adesão dos bancários seria pequena.
"Não podemos deixar de reconhecer que o cenário era adverso, mas era preciso ousar", afirmou.
O que Berzoini chama de cenário adverso é o processo de reestruturação do setor bancário, que tem levado a inúmeras demissões.
Desde o início da década, 293.500 postos de trabalho no setor foram eliminados, o que representa 35% das vagas, de acordo com dados da CNB (Confederação Nacional dos Bancários).
Pressionados pelo redução dos empregos, os bancários estariam acuados e pouco propensos a participar de uma mobilização, acredita Berzoini.
Os números da greve, que durou nove dias, refletem esse temor. Na Grande São Paulo, apenas 10 mil dos 105 mil bancários aderiram ao movimento, de acordo com o sindicato.
Desde o início, o movimento se concentrou praticamente em três bancos: Real, Unibanco e Mercantil de São Paulo. A adesão no Real e no Unibanco, segundo o sindicato, chegou a 90%.
A paralisação nesses bancos sustentou a greve até a sexta-feira. Um dos trunfos dos bancários era a paralisação do centro administrativo do Unibanco, que concentrava atividades como processamento de dados e contabilidade.
Cerca de cem agências em São Paulo teriam tido seu funcionamento prejudicado, a maioria localizada no centro da cidade.
No resto do país, o quadro foi semelhante: 50 agências paradas no Rio, 26 em Brasília, 7 em Belo Horizonte, e não mais de 15 em Vitória (ES), Recife e Porto Alegre.
Em São Paulo, o comando de greve foi obrigado a recrutar pessoas de outras categorias para manter os piquetes.
Segundo números do sindicato, cerca de 250 pessoas, entre eles metalúrgicos e sem-terra, reforçaram os grupos de grevistas que impediam a entrada de funcionários. O número de bancários nos piquetes não teria passado de cem.
Para o coordenador das Negociações Trabalhistas da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), Magnus Ribas Apostólico, o recrutamento de sem-terra e de metalúrgicos dá a dimensão da greve. "Foi um movimento de fora para dentro, parcial e concentrado."
Mesmo assim, a Fenaban avalia que cedeu mais na negociação do que esperava.
Segundo Apostólico, o reajuste de 10,8% é o melhor índice dado a uma categoria em 96.
O aumento, no entanto, ficou longe da pretensão dos grevistas. Eles reivindicavam reajuste de 21%, mais 6,7% de produtividade e aumento de 40% no piso.

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