São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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PT cresce com imagem de 'bom gerente'

CLÓVIS ROSSI
DA REDAÇÃO

Foi mera coincidência, mas sintomática: o fato de Porto Alegre ter encerrado a apuração antes de qualquer outra capital transformou a festa da vitória do PT na primeira a ser mostrada nos telejornais ainda do fim da noite de quinta-feira.
O festival de bandeiras vermelhas com a clássica estrela (e também algumas de outras cores, mas sempre com a estrela), desfraldadas pela militância no centro de Porto Alegre, ficou até parecendo a comemoração de um extraordinário desempenho em todo o país.
Só o segundo turno dirá se a coincidência foi ou não premonitória. Por ora, o fato é que o PT será o partido de maior presença (sete) no segundo turno das capitais, as cidades que, obviamente, têm maior peso político estadual e, às vezes, nacional.
Nada impede que o PT perca todas as sete disputas e fique reduzido a seu bastião gaúcho. Na política, não raro, conta mais o impacto psicológico do número de vitórias do que o número total de votos obtidos.
Ainda assim, até um adversário, o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), rende tributo ao desempenho petista.
"O PT passa a ocupar todos os espaços políticos da esquerda e da centro-esquerda", acha Maia. Acrescenta: "Somem todos os rivais, nessa área, exceto casos localizados como o de Jaime Lerner".
É claro que, mais do que Cesar Maia, o PT comemora o desempenho, que seu presidente nacional, José Dirceu, considera uma "legitimação do modo petista de governar".
Privatizantes
Se é assim, falta qualificar o "modo petista de governar".
Não é de esquerda, se por esquerda se entender, por exemplo, a tendência à estatização dos meios de produção.
Prefeito algum do PT fez da estatização uma bandeira administrativa. Houve casos até em contrário, como Ribeirão Preto (SP) e Londrina (PR), cidades em que prefeitos petistas privatizaram empresas de telecomunicações.
Luiza Erundina, a candidata do PT em São Paulo, vai ao segundo turno com uma autocrítica em relação a seu próprio passado:
"Me elegi com certas idéias estatizantes e hoje não acredito mais nisso. Estatizar certas funções públicas não está mais na nossa pauta", disse à Folha.
Outra antiga marca petista, o vínculo extremo com o funcionalismo público, foi rompida pelo governador do Espírito Santo, Vítor Buaiz, que tenta impor um programa de saneamento das finanças que uma facção do próprio partido considera tão "neoliberal" quanto projetos similares do governo Fernando Henrique Cardoso.
Toda essa caminhada rumo ao pragmatismo (ou a moderação, como se queira) transformou em grande marca do PT o "Orçamento Participativo", vitorioso em Porto Alegre, mas que nem remotamente tem qualquer charme ideológico.
É muito mais uma definição gerencial do que propriamente ideológica. E bem-sucedida, a julgar pelo fato de que o PT de Porto Alegre ganhou três eleições seguidas.
É evidente que o PT diz, sempre, que a ênfase no investimento social o diferencia dos demais partidos, pelo menos dos de centro e direita.
Erundina, por exemplo, atribui o fato de estar no segundo turno ao "reconhecimento pelo trabalho na prefeitura, sobretudo as prioridades sociais que foram a marca de nosso governo, em comparação com o atual".
Mas é mais difícil medir eventuais êxitos sociais, até porque dependem também (às vezes, principalmente) de ações do governo central.
Prova-o o fato de que Erundina obteve, agora, menos votos do que na eleição de 1988, quando se elegeu. O reconhecimento de que se orgulha parece não estar sendo tão grande.

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