São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 1996
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Estudos contestam benefícios de terapia com AZT

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Estudos publicados hoje na revista "New England Journal of Medicine" marcam o fim da "era do AZT", anunciaram ontem pesquisadores dos EUA. O AZT foi a primeira droga desenvolvida para combater o vírus da Aids, o HIV.
Em conjunto, os resultados dos estudos mostram que terapias baseadas apenas no uso do AZT não são eficazes no tratamento de doentes de Aids. "Esses estudos marcam o fim da era da monoterapia do AZT", disse Scott Hammer, da Harvard Medical School, um dos autores dos estudos.
Hammer alertou para o fato de que, no ano passado, pelo menos 50% dos pacientes que faziam tratamento contra a Aids estavam usando apenas o AZT, a despeito da divulgação de resultados de outros estudos, que envolviam novas drogas ou a combinação do AZT a outras drogas.
Segundo ele, até julho deste ano, "um número considerável de pessoas ainda estava se submetendo a esse tipo de tratamento".
Hammer afirmou que seu envolvimento nesses estudos começou em 1991, cerca de cinco anos após o AZT (zidovudina) ter sido introduzido pela primeira vez como uma droga anti-HIV.
Quando as drogas ddI e ddC foram introduzidas, os pesquisadores começaram a usá-las como tratamentos alternativos ou em combinação com o AZT. O objetivo era determinar se havia vantagens em usar essas drogas combinadas.
ACTG 175
Os resultados do primeiro estudo, batizado ACTG 175 e que acompanhou 2.467 pacientes durante cerca de 143 semanas, mostraram que a combinação entre esses medicamentos e o AZT funciona melhor do que o AZT sozinho em pacientes em estágio intermediário da doença.
Segundo os pesquisadores, 57% desses pacientes havia recebido outras terapias anti-HIV.
O outro estudo, conhecido como CPCRA 007, acompanhou 1.102 pacientes com menos de 200 células CD4 por milímetro cúbico, estágio da doença considerado avançado. Os níveis de CD4, principal alvo do HIV, mostram em que estágio da doença o paciente está. As CD4 são células de defesa do organismo contra infecções.
O estudo mostrou que 77% desses doentes haviam se submetido anteriormente a terapias.
Após 35 meses (aproximadamente três anos), o grupo de pacientes que havia recebido AZT mais ddI ou AZT mais ddC não apresentou melhoras.
Nesse grupo a taxa de mortalidade foi maior do que entre os doentes que haviam se tratado apenas com o AZT.
Os efeitos tóxicos da terapia foram maiores nos pacientes que haviam recebido a combinação das drogas. Um pequeno grupo, que não havia havia tomado o AZT anteriormente, foi o único que apresentou uma certa melhora.
Os resultados também mostraram que o coquetel de drogas foi ineficaz em pacientes que haviam se tratado anteriormente com o AZT por mais de 12 meses.

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