São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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Russo se recusava a comer, andar e a falar com amigos nos últimos dias

DA SUCURSAL DO RIO

Há três dias, Dado Villa-Lobos, companheiro de Renato Russo no Legião, correu assustado ao apartamento do amigo em Ipanema (zona sul do Rio). Ouvira boato de que Russo se suicidara.
Ao chegar ao apartamento, encontrou o pai de Russo, Renato Manfredini, chorando e pedindo ajuda. O filho definhava no quarto. Recusava-se a comer, a levantar da cama e até mesmo a falar.
"Dado entrou no quarto e, quando Renato o viu, começou a chorar, sem falar nada. Os dois choraram muito tempo abraçados. Dado ficou arrasado. Ele não sabia como ajudar o amigo", contou Fernanda, mulher de Dado.
Desde o final das gravações do último disco da banda, "A Tempestade", Renato Russo havia se trancado em casa. Há cerca de três meses, entrou num processo de depressão profunda e começou a sofrer de anorexia (doença que leva à perda de apetite).
"Ele não comia mais nada. Estava um trapinho, mal conseguia andar", contou Fernanda.
O tio de Russo, Asmar Manfredini, disse que ele "estava triste mesmo, deprimido". Para o tio, a tristeza ficou evidente no último CD.
Ontem às 6h, o casal Fernanda e Dado Villa-Lobos recebeu um telefonema de Renato Manfredini avisando da morte do filho.
"Não podíamos imaginar que ele fosse morrer agora. Pensávamos que ele resistiria. Ele já havia passado por tanta coisa difícil e tinha sobrevivido", disse Fernanda.
Maria do Carmo, mãe de Renato Russo, não chegou ao Rio a tempo de encontrar o filho vivo. Estava em Brasília, onde mora e cuida do filho de Russo. Avisada ontem à noite da gravidade do estado de saúde do filho, marcou a viagem para o Rio para hoje pela manhã. Ao chegar, Russo já morrera.
Saul Bteshe, 46, clínico-geral que há seis anos acompanhava Renato Russo, disse que o cantor e compositor "apressou seu fim". "Ele não comia mais nada, se entregou à depressão e morreu", disse.
Conhecidos do artista percebiam o agravamento da depressão. O vizinho Chico Guarani, 40, disse que ele não queria mais conversa. "Há 15 dias, o vi entrando no prédio cambaleando de fraqueza."
Russo frequentava o bar Paz e Amor, na rua Nascimento Silva. "Ele bebia muito aqui e cantava algumas músicas. Mas, há quatro meses, sumiu", disse Armando de Souza, 67, sócio do bar.

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