São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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Anestesia é mais seguro que atravessar rua, diz médico

DA REPORTAGEM LOCAL

O episódio ocorrido com a atriz e modelo Cláudia Liz mostra que as entidades médicas precisam ser mais rigorosas nas fiscalizações, os médicos não devem aceitar cirurgias em locais de poucos recursos e os pacientes precisam exigir informação e segurança.
O alerta foi feito ontem por Miguel Srougi, 49, professor titular de urologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp, antiga Escola Paulista de Medicina).
Segundo ele, "na maior parte das vezes, os acidentes anestésicos ocorrem por falta de condições adequadas no local da cirurgia ou por descuido médico".
O choque anafilático -o mais sérios dos acidentes anestésicos- é contornado se ocorrer em uma clínica ou hospital bem equipado.
O choque anafilático é uma reação alérgica violenta que ocorre em um a cada 20 mil pacientes anestesiados. Durante o choque, os vasos sanguíneos se dilatam, a pressão cai e diminui a quantidade de oxigênio no sangue.
O risco maior, no entanto, está em uma falha na assistência, diz o médico.
"Com uma boa assistência local, prestada de pronto, praticamente todos os casos de choque anafilático podem ser revertidos sem sequelas para o paciente", afirma Srougi.
Enio Buffolo, professor titular de cirurgia cardíaca da Unifesp, é da mesma opinião. "O acidente anafilático é contornável", diz. "A demora da equipe ou a falta de equipamento é que pode provocar sequelas."
Buffolo, que faz e acompanha várias cirurgias de grande porte por dia, afirma que não se lembra da ocorrência de um único caso de choque anafilático.
"Perdemos pacientes por outras razões, não por essa."
Os dois especialistas afirmam que um paciente bem-informado não deve temer possíveis riscos anestésicos.
"A anestesia é hoje um procedimento mais seguro do que atravessar uma rua em São Paulo", afirma Srougi. "Basta, para isso, que a equipe seja preparada e o local ofereça todas as condições."
Os equipamentos para reanimação -como aparelhos de ventilação e monitores de pressão, de respiração e do oxigênio no sangue- devem ser exigidos em todas as clínicas.
"São equipamentos que não custam caro e que são fundamentais na monitoração do paciente. Eles disparam alarmes diante de qualquer anormalidade permitindo aos médicos uma resposta rápida", diz Srougi.
Segundo ele, diante dos recursos técnicos disponíveis, cabe ao médico cobrar condições perfeitamente adequadas de trabalho. E cabe ao Conselho Regional de Medicina investigar com rigor o funcionamento das clínicas.
"Mas não é isso o que vem acontecendo", afirma Srougi. "Há excelentes profissionais e clínicas em funcionamento. Mas há aqueles médicos que fazem mais de um procedimento ao mesmo tempo e que estão dispostos a correr riscos."

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