São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Baixo investimento há duas gestões mantém déficit de habitação popular

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mantido o ritmo de investimentos em habitação popular dos dois últimos governos, São Paulo não deverá ver diminuir significativamente, até o final da próxima gestão, o número de pessoas que moram em favelas. Não importa quem seja o novo prefeito.
A atual administração, representada no segundo turno da eleição municipal por Celso Pitta (PPB), promete entregar 23,4 mil casas populares até o final do mandato de Paulo Maluf.
Durante sua gestão, entre 1989 e 1992, Luiza Erundina construiu cerca de 28,5 mil moradias para pessoas de baixa renda, segundo a Secretaria da Habitação. A propaganda eleitoral da candidata do PT menciona 35 mil. A diferença ficaria por conta de habitações para a classe média.
Projetados para o futuro, ambos os investimentos seriam insuficientes para melhorar algo além da fachada da infra-estrutura habitacional de São Paulo.
Pela última estimativa da prefeitura, de 1993, 19,3% dos paulistanos são favelados. Em números de hoje, isso significa 1,93 milhão de pessoas -quase duas vezes a população de Campinas, a segunda cidade do Estado.
Para abrigá-los todos em casas ou apartamentos de alvenaria, seriam necessárias nada menos do que 386 mil novas habitações.
Não se pode esperar que uma administração, em quatro anos, acabe com um déficit de moradias acumulado durante décadas. Mas o risco é que o futuro prefeito não consiga nem sequer diminuí-lo.
O problema é que, assim como a população da cidade, o número de favelados continua crescendo. De 1987 a 1993, isso ocorreu numa velocidade ainda maior do que a do resto dos moradores da cidade.
Projeções feitas pelo demógrafos da Fundação Seade indicam que a população de São Paulo no ano 2000 será de 10,677 milhões.
Isto é: mesmo que o aumento da demanda por casas populares acompanhe o do resto da cidade serão necessárias 26 mil novas casas -só para abrigar as 129 mil pessoas que virão do crescimento vegetativo da população favelada.
Comparadas com as realizações no campo habitacional apresentadas por Maluf e Erundina, essas projeções indicam, na melhor das hipóteses, uma redução de pouco mais de 2% do problema.
Cingapura ou mutirão, parcerias com a iniciativa privada ou conjuntos habitacionais, a escala das saídas apresentada até agora pelos governantes tem se mostrado insuficiente para fazer frente ao crescimento das favelas.
Mais do que o tipo de construção, o problema que o novo prefeito terá de resolver é de financiamento: obter dinheiro suficiente para realizar obras em uma escala que reduza de fato o número de favelados da cidade.
Para complicar ainda mais o desafio, dependendo da solução enfrentada e de onde a prefeitura alocará essa população, isso implicará mais demanda por escolas, postos de saúde, água, saneamento e transporte público.

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