São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Cosmético faz mulher correr mais riscos

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O uso de cosméticos e o contato com produtos de limpeza poderiam explicar o fato de as mulheres serem mais sujeitas a choques anafiláticos que os homens.
Estudos internacionais mostram que entre as vítimas desse processo há de quatro a nove vezes mais pacientes do sexo feminino.
Um choque anafilático, causado por anestésicos e sedativos, pode ter sido a causa do problema com Cláudia Liz.
O choque anafilático, ou anafilaxia, é uma reação alérgica explosiva provocada por um tipo de anticorpo, o IgE. Depois de um primeiro contato com o agente causador da alergia, o organismo passa a produzir anticorpos e se prepara para uma resposta violenta, que ocorrerá num segundo contato.
Os vasos sanguíneos se dilatam, a pressão cai, diminui a quantidade de oxigênio no sangue, levando a um edema cerebral ou até à morte.
"O uso frequente de cosméticos é uma das teorias estudadas para explicar a maior ocorrência de reações anafiláticas em mulheres", diz David Ferez, diretor científico da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo.
Os componentes desses produtos provocariam a primeira reação do organismo à substância, que pode nem ser percebida pela pessoa.
Quando o paciente vier a usar um medicamento com o mesmo princípio ativo, poderá ocorrer o choque.
Rosa Maria Mazzuco, pós-graduanda da Faculdade de Medicina da USP, vem estudando as razões dessa ocorrência maior em mulheres. Sua pesquisa se limita a pacientes que receberam bloqueadores neuromusculares -ou anestesia geral- derivada do curare.
Segundo ela, a incidência de anafilaxia nesse anestésico é de um caso para 5.000 a 20.000 pacientes.
O estudo também pretende explicar por que alguns pacientes sofrem um choque já na primeira exposição a determinada droga.
Uma das razões possíveis são as reações cruzadas, quando o organismo reage a uma substância com a qual aparentemente não teve contato. Pessoas com alergia a antibióticos que contenham sulfa devem evitar outras substâncias com o mesmo princípio ativo.
Por essa razão, especialistas sugerem que pacientes levem consigo algum tipo de alerta para o médico. Deve descrever os episódios alérgicos, mesmo simples picadas de inseto.
Embora a anafilaxia possa acontecer com qualquer um, os casos graves e fatais ocorrem geralmente com pacientes geneticamente predispostos.
Segundo médicos, testes seguros são impraticáveis por causa do número de substâncias com as quais as pessoas estão em contato.

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