São Paulo, domingo, 13 de outubro de 1996
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Tom Curren volta para 'tocar' nas ondas

SÉRGIO KRASELIS e RODRIGO BUENO

SÉRGIO KRASELIS; RODRIGO BUENO
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO DE JANEIRO

O tricampeão mundial, que parte para a carreira musical, volta ao esporte dizendo estar preparado para perder

Tricampeão mundial do circuito de surfe profissional (85, 86 e 90), o norte-americano Tom Curren, 32, está voltando às águas.
Surfista e guitarrista, ele veio ao Brasil para a disputa do Rio Surf Pro, como convidado dos organizadores, após ficar longe das competições durante quatro anos.
Casado pela segunda vez, sua mulher, a panamenha Makeira, está grávida do segundo filho. O primeiro, Francis, de 1 ano e 6 meses, já pega onda com o pai.
"Por enquanto, apenas na espuminha", conta Curren, o primeiro norte-americano a vencer um Mundial, interrompendo o domínio histórico dos australianos.
Nesta segunda-feira, o guitarrista Curren sobe ao palco do Canecão (zona sul do Rio) com a banda Ear, formada por Chris Swann (baixo) e Marco Wood (bateria).
A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida à Folha em um amplo casarão no bairro de São Conrado, onde se encontra hospedado com a família.
*
Folha - O que você pretende com a sua volta ao surfe?
Tom Curren - Não tenho mais preocupação em vencer. Agora posso escolher onde competir. Aceitarei naturalmente as derrotas. É bom aprender a perder.
Folha - Muitos surfistas ainda consideram você o melhor do mundo. O que você acha disso?
Tom Curren - É perigoso você ter ou ser um ídolo porque todos nós somos mortais e um dia o ídolo pode despencar. Durante muito tempo fui o número um do mundo. Procuro apenas cuidar da minha imagem. Mas, às vezes, deixo de pensar nela.
Folha - O surfista é visto como um sujeito sem cultura, quase um idiota. O que você pensa disso?
Tom Curren - Talvez sejam as ondas batendo na cabeça (risos). Agora, falando sério, o surfista tem um estilo de vida simples, e muitos deixam de estudar. O surfe te dá tanto prazer que você quer ficar nele. E isso faz você deixar de se preocupar com outras coisas.
Folha - Você surfa e toca. Como é o seu tempo livre?
Tom Curren - Normal. Não tenho preferência por um tipo especial de comida. Não gosto muito de ler, assistir TV ou ir ao cinema.
Folha - E a vida em família?
Tom Curren - Gosto de ficar ao lado do meu filho, Francis, e de minha mulher. Por isso, fiquei um tempo sem competir. Quero me dedicar à família.
Folha - Você começou cedo na música. Aos 8 anos, tocava bateria e, aos 14, guitarra. Que tipo de som você e sua banda fazem?
Tom Curren - Classificamos nosso som de funk rock. Tive influência de bandas inglesas, como Beatles, Rolling Stones e The Who. Gosto de Yellow Submarine (risos). No começo, principalmente quando frequentava a Igreja Presbiteriana, tocava folk.
Folha - Como o público recebe o som da banda?
Tom Curren - Que público? (risos). Bem, só tocamos para platéias nos campeonatos de surfe. Nosso primeiro show para bastante gente vai ser no Rio. Se der certo poderemos até gravar um CD.
Folha - Você disse que tocou em igreja. Você é religioso?
Tom Curren - Não, mas acredito muito em Jesus Cristo (segura um medalhão com a imagem de Jesus preso ao pescoço). Não pertenço a entidades tipo atletas de Cristo porque não corro mais o Circuito.
Folha - Como vê a política?
Tom Curren - Não voto nem em Clinton nem em Dole (candidatos a presidente nos EUA, em novembro). Democratas e republicanos são iguais, a mesma embalagem.
Folha - O que você pensa a respeito das drogas?
Tom Curren - As drogas são ruins. Muita gente morre com elas. Mas a droga está em todos os lugares, com pessoas de todas as classes. É até normal que alguns surfistas usem drogas. Eu não uso.
Folha - Você acredita que o sexo antes de uma competição atrapalha o desempenho do surfista?
Tom Curren - Às vezes. Temos que nos concentrar (risos). Na noite anterior não tem problema.
Folha - Os dois integrantes da sua banda são negros e você já declarou amor pelo blues, Jimmy Hendrix e Aretha Franklin. Como você, que tem uma forte relação com os negros, vê o racismo?
Tom Curren - Na América existe muito racismo, mas não vou ficar pregando contra isso. Se me perguntam, digo que sou contra. Não toco com negros por eles serem melhores ou piores (Chris ameaça socá-lo). Aconteceu.
Folha - O surfe te deu dinheiro?
Tom Curren - Quando competia cheguei a ganhar US$ 350 mil por ano. Agora ganho US$ 120 mil.
Folha - Quando e onde você começou a surfar?
Tom Curren - Aos 6 anos meu pai me deu US$ 10 e comprei uma prancha de um garoto no Havaí. Surfei pela primeira vez lá, em Makaha. Meu pai (Pat Curren, um dos maiores surfistas do passado) nunca me obrigou a surfar.
Folha - Você já teve medo de alguma onda?
Tom Curren - Já, principalmente em Maverick's, na Califórnia, onde existe muito desafio. Em algumas ondas você pode morrer.
Folha - Qual a melhor onda do mundo?
Tom Curren - Todos me fazem essa pergunta e não sei responder.
Folha - Nos últimos anos você se envolveu com a Surfrider Foundation. O que faz essa entidade?
Tom Curren - É uma ONG dedicada à proteção dos oceanos. Mas participo apenas como voluntário e quando posso me apresento com a banda para dar apoio à fundação.
Folha - O surfe na Olimpíada de Sydney é sonho ou realidade?
Tom Curren - Eu penso que o surfe deve estar nos Jogos. O surfe são vários esportes, como skate, windsurfe, snowboard e até o skysurf. A performance vai depender das condições da natureza.

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