São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Manipulação do DNA vai ajudar a prevenir o câncer

VICTOR AGOSTINHO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

As cirurgias para extrair tumores de pacientes com câncer hereditário estão com os dias contados. O que a medicina moderna está atualmente discutindo é a terapia genética, ou seja, a atuação direta no DNA para que não haja a formação do tumor ou para que a lesão seja revertida.
No caso da hereditariedade, os pesquisadores tentam eliminar, pela engenharia genética, a molécula lesada do DNA (ácido desoxirribonucléico, que guarda e transmite a herança genética dos indivíduos). Modificando-se o padrão, estaria sendo eliminada a molécula que causaria o tumor hereditário.
Esta nova possibilidade de tratamento é considerada a quarta grande revolução da medicina curativa. A primeira, foram os procedimentos de higiene e limpeza, que salvaram milhões de pessoas no século 19. A segunda -o advento da anestesia, no início deste século- possibilitou cirurgias mais complexas sem que o paciente literalmente morresse de dor.
A terceira revolução também evitou milhões de mortes: foi o desenvolvimento, principalmente depois dos anos 40, de antibióticos e vacinas, que eliminaram as infecções pós-operatórias.
A terapia genética, ou terapia gênica, foi o foco das atenções do 45º Congresso Brasileiro de Colo-Proctologia, que se encerra na quarta-feira no Rio e que está reunindo cerca de 600 especialistas.
O brasileiro Raul Cutait, um dos organizadores do encontro, acredita que o procedimento ainda vai demorar alguns anos para ser aplicado de maneira generalizada.
Por enquanto, estão sendo feitas experiências protocolares nos Estados Unidos em 2.000 pacientes, contam os pesquisadores Luiz Camara Lopes e Katia Leite. "Estamos entrando na era gênica. Em outros momentos, o que se estudou foram os resultados. Agora, começa a ser estudada e modificada a causa da doença. O problema da terra no futuro não vão ser as doenças, mas a superpopulação", afirma Câmara Lopes.
Na opinião de Katia Leite, patologista do hospital Sírio Libanês, depois de concluído o Projeto Genoma Humano, que está mapeando todo o DNA do homem, será possível intervir diretamente na molécula. "Isso equivale a dizer que na prática as doenças hereditárias poderão ser erradicadas. Não só o câncer, mas também o diabetes e outras doenças", disse.

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