São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Hill, o 'homem comum', dedica título à Williams

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Damon Hill, finalmente, é campeão. Venceu de ponta a ponta o GP do Japão, disputado ontem, em Suzuka, e se tornou o 25º homem da história a conquistar um título mundial de Fórmula 1.
Seu único adversário, o companheiro Jacques Villeneuve, acabou abandonando a corrida, na volta 37, depois de seu Williams perder uma roda.
Mesmo que terminasse a prova, o canadense dificilmente teria chances. Arruinou sua corrida na largada, quando perdeu seis posições mesmo sendo o pole.
Hill assumiu a liderança e pilotou não só pelo campeonato. Na segunda volta, arriscou bloquear Gerhard Berger -se tocaram e o austríaco levou a pior, tendo que reparar seu Benetton nos boxes.
Na frente, manteve uma vantagem de três a quatro segundos sobre os adversários. E, sem maiores dificuldades, cruzou a linha de chegada, escoltado por Michael Schumacher e Mika Hakkinen.
O alemão, seu algoz nas duas últimas temporadas, foi o primeiro a cumprimentá-lo. Minutos mais tarde, Hill devolveu o cumprimento, após o ferrarista dizer que o rival não tinha tido "apenas sorte, merecia o título".
Na entrevista coletiva, Hill citou longa lista de agradecimentos. Dedicou o triunfo à Williams e à fornecedora Renault, mas não citou Frank Williams.
O chefe da equipe o dispensou, dando sua vaga para o alemão Heinz-Harald Frentzen. Hill correrá pela TWR em 97 e dificilmente terá chance de ser bicampeão.
O piloto fez menção especial à sua família, principalmente à mulher Georgie, presente no circuito de Suzuka. "Ela me deu muito apoio em todo meu tempo de F-1. Agradeço a ela por este campeonato", declarou.
Hill, de fato, viveu momentos difíceis. Desperdiçou o título de 94 e, diversas vezes, foi criticado pela falta de garra e habilidade.
Sua vida, assim como sua carreira, está cheia de momentos dramáticos. Aos 15 anos, sentiu muito a morte do pai, o bicampeão mundial Graham Hill, em um acidente aéreo ocorrido em 75.
As finanças da família ruíram e Hill foi obrigado a esquecer a infância rica, os colégios particulares e as viagens durante as férias.
Arranjou um emprego de motoboy e, como legítimo adolescente inglês do final dos anos 70, era membro de uma banda punk.
Aos 19, começou a disputar provas de motociclismo. Mais tarde, a pedido da mãe, entrou em uma escola de pilotagem: "Ela dizia, com razão, que quatro rodas eram mais seguras que duas."
Com carros, sua carreira não foi mais brilhante. Mas ascendeu e acabou se tornando piloto de testes da Williams em 91. Um ano depois já era o segundo piloto e, em 94, com a morte de Ayrton Senna, se tornou o principal do time.
O glamour da categoria, porém, não o seduziu. Continuou sendo o homem comum, como é visto na Inglaterra, dedicado à família -seu filho mais velho, Oliver, nasceu com síndrome de Down.
Hill entra para história não pelas manobras espetaculares ou pelos feitos sobrenaturais, como outros campeões. Mas, talvez, por ser falível, um simples mortal.
(JHM)

Com agências internacionais

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