São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Fatos que marcaram a trajetória de Renato
THALES DE MENEZES
Renato Russo era o único artista do pop nacional que tinha com seus fãs uma ligação tão forte que os trabalhos que lançasse nunca seriam suficientes para saciar o desejo do público. E o Legião não colaborava para isso. Não era uma dessas bandas que soltam um disco por ano. Até para começar a gravar o grupo demorou. Antes apareceram Blitz, Barão, Paralamas, Titãs, Kid Abelha, Ira! e outros que já viraram história. Essas bandas já gravavam enquanto o Legião continuava nos porões de São Paulo (Napalm, Madame Satã etc.), com metade da platéia gritando "Fora, MPB!" quando o Renato pegava o violão. O primeiro álbum não foi aquele estouro. "Será" tinha um videoclipe meio fraquinho, com umas cenas da banda andando no túnel da av. Nove de Julho. "Geração Coca-Cola" era tocada nas rádios, mas o hino da moçada da época era mesmo "Inútil", do Ultraje. Aí veio o álbum "Dois" e a música que fisgou todo mundo: "Eduardo e Mônica", a saga do casal que tinha tudo para dar errado, mas viveu feliz. O disco vendeu 600 mil cópias e o Legião virou sucesso nacional. A cantora Marina, então no auge de popularidade, gravou "Ainda é Cedo", do primeiro disco do Legião. Renato apareceu até com um elmo de viking na cabeça cantando "O Senhor da Guerra" num especial infantil da Globo. O compositor virou um dos grandes nomes do rock nacional. Sua vida foi exposta pela imprensa, com fotos de um Renato cabeludo e meio hippie tocando violão em shows na UnB, ou então liderando o Aborto Elétrico, o primeiro grupo punk de Brasília. Todo esse período voltou à tona com o terceiro disco da banda, só de músicas escritas entre 1978 e 1987. Uma é a épica "Faroeste Caboclo", canção que tocou muito nas rádios, apesar de seus 11 minutos e de seus 159 versos, sem refrão. Então começou o período mais conturbado da banda. Renato brigou com o público quando uma sandália voadora o atingiu no meio de um show. As bebedeiras e crises de depressão culminavam em pequenos incidentes violentos, sempre alardeados. O álbum "Quatro Estações" já indicava uma presença maior de letras melancólicas no trabalho da banda, que apenas se acentuou no CD "V". Entre os dois trabalhos, revelou que era bissexual e que tinha um filho, hoje com 7 anos, criado pelos pais do cantor. Na década de 90, as apresentações ao vivo da banda ficaram mais raras, mas Renato canalizava seu trabalho para o estúdio. Foram seis álbuns em seis anos, quatro com o Legião e dois trabalhos individuais. Neles, Renato manteve sua ligação com a angústia adolescente. Renato também não se encaixava no mundo, mas trazia a experiência de um irmão mais velho, alguém com quem você sempre podia contar. Agora, resta guardar os CDs de Renato num lugar especial no quarto, porque a gente sempre precisa deles quando o mundo está contra nós. Texto Anterior: "Ele entendia mesmo a gente" Próximo Texto: discos de Renato Russo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |