São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 1996
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Sempre disputado, Salang é herança soviéticada

KURT SCHORK
DA "REUTER", NO TÚNEL SALANG

Disputado praticamente sem trégua durante uma geração, o estratégico túnel Salang é um mausoléu das ambições de uma superpotência, da natureza instável das alianças militares afegãs e do interminável sofrimento de seus civis.
A rodovia Salang liga a capital com o norte do Afeganistão, atingindo 3.300 metros de altitude por meio de subidas íngremes e túneis construídos pelos soviéticos, antes de cair nas plantações de arroz da região de Pol-e-Khomri.
Moscou lançou tropas, blindados e artilharia no centro do Afeganistão através do túnel Salang, durante a invasão que durou uma década e terminou com uma humilhante retirada, em 1989.
Com armas leves, grupos de "mujahedins" (guerrilheiros) afegãos repetidamente emboscaram comboios soviéticos em toda a extensão da estrada durante aquele período. Canhões dos blindados soviéticos hoje são usados como pontes nos córregos remotos da região.
Os contêineres usados pelos invasores hoje servem como lojas e até casas. Pedras marcam o local das minas, e os viajantes são aconselhados a nunca deixarem o asfalto, exceto em companhia de um guia. Há milhares de mutilados entre os civis.
Mas se os mais antigos destroços de guerra são soviéticos, os mais recentes estão no lado norte do túnel. São os restos do conflito entre o guerrilheiro uzbeque Abdul Rashid Dostum e as forças do governo leais ao tadjique Ahmad Shah Massoud, ministro da Defesa do governo deposto.
Os dois eram adversários na região durante a ocupação, quando as tropas de Massoud lançavam ataques-surpresa contra as forças soviéticas e seus aliados, incluindo Dostum.
Só em 1992, quando Cabul estava prestes a cair nas mãos dos "mujahedins", Dostum resolveu mudar de lado.
A rivalidade entre os dois carismáticos líderes militares explodiu em uma séria luta junto à saída norte do túnel Salang no começo deste ano, quando Massoud tentou avançar do topo da passagem contra as tropas de Dostum.
O líder uzbeque rechaçou o ataque, mas vilas recém-destruídas, crateras causadas por bombas e equipamentos destruídos margeiam a rodovia perto de Markhan, onde a luta foi mais intensa.
Quando as forças insurgentes do Taleban capturaram Cabul, duas semanas atrás, o governo, do qual participava Massoud, se retirou para o vale do Panshir, e Dostum passou a dominar as montanhas e agora tem considerável força.
No pé das montanhas, os homens de Massoud lutam contra o Taleban pelo controle da estrada entre Salang e Cabul. Até agora, pelo menos, Dostum se mantém foram dessas lutas.
Voltando a sua velha tática, Massoud recentemente fez emboscadas contra as forças do Taleban que avançavam para o norte, pondo minas atrás deles e atacando a frente das colunas -200 milicianos morreram e 100 foram presos.

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