São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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Promessa de FHC cria 'empregos virtuais'

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No papel, o governo Fernando Henrique Cardoso já prometeu gerar 5,7 milhões de empregos até o final deste ano.
Esse número é seis vezes maior do que o total de desocupados nas seis maiores regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre), registrado pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A meta de geração de empregos, colocada em números, atinge 16,145 milhões de pessoas até o final do mandato de FHC.
Isso equivale a 21% de toda a PEA (População Economicamente Ativa) brasileira, que contabiliza trabalhadores entre 14 e 65 anos.
Na área técnica do governo -incluindo o Palácio do Planalto, os ministérios do Trabalho e do Planejamento e o BNDES- há um consenso: as metas traçadas nos documentos oficiais não têm rigor científico e dificilmente serão atingidas.
Instrumentos
As promessas foram objeto de pronunciamentos de FHC. Os números estão em quatro publicações da "Coleção de Documentos da Presidência da República".
A menos de três meses do final do ano, o governo federal nem sequer tem instrumentos seguros para medir o impacto preciso dos investimentos oficiais no mercado de trabalho. É o que afirmam técnicos do próprio governo ouvidos pela Folha.
"Não são palavras. É mais, isso gera emprego", afirmou o presidente em maio, ao anunciar os efeitos dos megainvestimentos das empresas estatais e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que seriam responsáveis pela ocupação de 4,4 milhões de trabalhadores neste ano.
Na ocasião, FHC chegou a contabilizar, na cota de 1996, o efeito do programa Proemprego, que prevê a geração de 2,7 milhões de vagas até o final de seu mandato.
Divulgação A criação de empregos foi eleita prioridade do governo no ano até para o público externo.
A divulgação das promessas de "Creation of Employment", "Génération d'Émplois" e "Creación de Empleos" -em inglês, francês e espanhol, respectivamente- teve tiragem de 5.000 exemplares.
A maior parte da contabilidade oficial sobre geração de empregos se apóia em um modelo traçado pelo IBGE em 1990, conhecido como "matriz insumo produto".
Esse modelo é capaz de projetar o número de empregos que podem ser gerados a partir de um volume de investimentos em determinado setor da economia.
O principal problema do modelo é que ele está defasado, afirma Sheila Najberg, gerente do Departamento Econômico do BNDES.
Números frágeis
Desde o início dos anos 90, mudou a estrutura do mercado de trabalho brasileiro sob efeito da abertura comercial.
Diante da competição, a tendência passou a ser a redução dos gastos com mão-de-obra.
"Esses números não devem ser tomados como promessas, mas como estimativas. Eles são frágeis", avalia Jorge Jatobá, assessor especial do Ministério do Trabalho.
Ele afirma que a margem de erro da previsão oficial é muito grande: "Dificilmente deve-se alcançar essa meta".
"Meta física é uma coisa complicada, não é absolutamente científica", afirma Daniel de Oliveira, presidente do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador, de onde sai grande parte do dinheiro para programas de geração de emprego.
Proemprego Até julho, o Proger (programa de crédito a pequenos empreendedores urbanos e rurais), por exemplo, conseguiu gerar 62.387 empregos diretos.
Muitos desses empregos surgiram no mercado informal, segundo o Ministério do Trabalho.
Com carteira assinada, no mesmo período, foram empregados 79.928 trabalhadores em todo o país.
O Proemprego (que deverá investir R$ 9 bilhões com recursos do BNDES, FAT e contrapartidas do setor privado) fechou contratos no valor de R$ 880 milhões.
O principal deles é relativo à retomada das obras do metrô de São Paulo.
A expectativa do BNDES é que o dinheiro (ainda não totalmente liberado) gere 200 mil empregos da meta de 2,7 milhões de empregos fixada até 1998 por FHC.

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